terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Reflexões - 4
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Reflexões
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Contos da Caserna
Corria o ano de 1962, o Nicácio servia como Fuzileiro Naval no Destacamento de Fuzileiros Navais na cidade de São Borja.
Entre tantas atividades inerentes a função dos Fuzileiros, tinha uma que era disputada por todos e que seguidamente eles trocavam entre si as escalas ou tiravam o serviço em dupla.
Essa missão era o de guarda da lancha no rio Uruguai.
A lancha: Bem a lancha era um meio de transporte fluvial para diligências ou patrulhas que eram realizadas no rio que faz divisa do Brasil com a Argentina.
A patrulha é claro eram feitas no lado brasileiro, a não ser o que o responsável às vezes sem saber ou intencionalmente ultrapassasse a linha imaginária que dividia os dois Países.
Quando o comando estava com o Cb. Paiol, bem ai tudo podia acontecer, porque ele não tinha limites em suas ações.
As patrulhas tinham o objetivo de inibir o contrabando ou descaminho de café, açúcar e pneus para o lado Argentino e farinha, cebola, azeite e carne para o lado brasileiro.
Fora esses detalhes, a missão mais importante era a soberania nacional sob as águas fluviais brasileiras e o que levava a todos que participavam ter uma grande honra em desempenhar tal missão.
Além disso, quando a lancha não estava em patrulha, ficava ancorada na costa brasileira, num pequeno porto sem trapiches que ficava nos fundos do destacamento.
Todos os dias tinham fuzileiros escalados para permanecer na lancha com o objetivo de guardá-la e protegê-la de qualquer dano.
Ai começava os problemas da história que estamos contando.
A lancha, além de todos os apetrechos correspondentes a uma unidade militar, tinha objetos normais e inerentes a uma atividade fluvial e militar, indispensáveis a uma missão como aquela.
Ela, a lancha, possuía em sua proa um pequeno alojamento com duas camas, uma a bombordo e outra a estibordo, essa comodidade, possibilitava que sempre que o Fuzileiro que estivesse de serviço, se lhe agradasse, podia levar um companheiro para não ficar isolado na missão.
Dificilmente ficava só um, sempre havia um companheiro e para que não ficassem os dois sozinhos, era normal que as namoradas de ambos os acompanhassem, o que acabava complicando tudo, porque afinal, a lancha era uma unidade militar e era expressamente proibido pelos regulamentos militares que civis permanecessem em áreas militares, principalmente se fossem do sexo feminino.
É claro que o sacrifício das namoradas era para não deixar seus amores sozinhos em tão árdua missão.
As enchentes, sempre foram da normalidade da região, mas quando o rio estava cheio, realmente a missão era complicada e muitas vezes arriscadas.
Numa dessas enchentes o rio estava de barranca a barranca, a correnteza muito forte, com grandes toras descendo rapidamente, a água turva e grandes remansos, a lancha ancorada a mais de 50 metros da margem, sem parar, balançando-se nas ondas de mais de metro de altura.
O Nicácio era o responsável pela lancha e sentiu que todo cuidado era pouco para chegar até ela.
O pequeno trajeto era feito numa pequena chalana movida a remos o que para os jovens e experientes Fuzileiros era moleza.
Só que:
Tanto o Nicácio como seu colega Munhoz que nessa noite seria seu segurança, estavam acompanhados, cada com uma namorada.
O Nicácio ainda lembra-se do nome da sua, ou melhor, do seu apelido, ‘’Cigana’’ a outra que acompanhava seu colega, não tem a menor idéia de quem fosse.
As duas menores, mas naqueles tempos, não tinha conselho tutelar e transar com menores não era tão rigorosa como é agora.
As duas estavam com muito medo de fazer o pequeno trajeto e os dois Fuzileiros pressentiam o perigo e estavam não com medo, mas apreensivos e sabiam que a mínima vacilada e daria um grande problema.
O Nicácio, primeiro levou até a lancha o Fuzileiro Munhoz e sua namorada, voltando para levar a Cigana que tinha ficado na barranca.
O retorno foi feito com alguma dificuldade, a correnteza estava muito forte e o vento fazia as ondas balançar perigosamente a pequena embarcação.
O Munhoz estava parado na popa da lancha observando a minha manobra pra encostar a chalana a estibordo, local que seria mais prático para a Cigana fazer o transbordo
A Cigana tinha embaixo do braço esquerdo duas mantas dobradas, quando a chalana encostou ela segurou-se na lancha, com este movimento a chalana abriu um pouco deixando um vácuo de mais ou menos um metro e meio entre as embarcações, era só ela puxar firme e a chalana se aproximaria da lancha o que facilitaria a operação.
O Nicácio que viu o pavor nos olhos de sua companheira pressentiu o que poderia acontecer se ela soltasse a lancha.
Tentando evitar o pior, falou firme, mas sem gritar: não solta a lancha.
O alerta funcionou completamente ao contrário.
Ela com os olhos esbugalhados de pavor, ao ouvir a advertência, largou a lancha e imediatamente caiu na água, com o movimento brusco, a chalana desequilibrou quase virando , fazendo com que o Nicácio em vez de prestar atenção na Cigana , se preocupasse em não deixar a chalana virar.
A Cigana ao cair permaneceu por uma fração de segundos a flor d’água agarrada as duas mantas e logo a seguir afundou num redemoinho de água e espumas.
Quando apareceu, foi a uns cinco metros de onde tinha caído, já descendo a forte correnteza e afundando novamente.
O Nicácio deixa neste relato um agradecimento ao Cb. Batista e sua turma de instrutores.
Valeu os exercícios e instruções do curso de formação de Sd. Fuzileiro Naval.
1º. – Não se apavorar, manter a calma;
2º. – Estudar a situação; e
3º. –Entrar em ação imediatamente.
É claro que tudo isso, tem que ser feito em frações de segundos e atos sincronizados.
O Nicácio que permaneceu na chalana, quando a dominou remou em direção a moça o Munhoz, simplesmente solou o cinto NA com o coldre e a pistola no convés da lancha e caiu na água.
Quando ela veio a tona pela segunda vez o Munhoz já estava a seu lado e segurou-a firme, porque se afundasse a terceira vez, teriam que procurar o seu corpo em vez de salvá-la.
Enquanto isso, a namorada do Munhoz que presenciou todos os acontecimentos trágicos, entrou em desespero no convés da lancha, sozinha e apavorada começou a gritar num ataque estéril de pavor e medo, fazendo com isso que todos os ribeirinhos ( pessoas que moravam nas proximidades do rio ) se aglomerassem nas barrancas do rio para ver o que estava acontecendo.
Os dois que socorriam a Cigana, nada viram, a preocupação deles no momento era tirar a moça da água para depois socorrerem a outra.
Como sentiu que não seria possível colocá-la dentro da chalana, o Munhoz segurou-se numa de suas bordas com a moça desmaiada em um dos braços enquanto o Nicácio remava procurando aproximar-se da margem do rio, o que foi conseguido a uns duzentos metros de onde tinha acontecido o acidente.
Para sorte dos dois Fuzileiros e o que evitou mais um desastre, foi que passava uma balsa de toras, o que era comum em grandes cheias, era madeira que descia o rio desde Santa Catarina para as madeireiras de Uruguaiana.
O balseiro ao assistir o desenrolar dos fatos e vendo aquela mulher que gritava apavorada, determinou que uma das lanchas socorresse a moça, só que:
Sendo conhecedor das leis de Portos Rios e Canais, pelo rádio solicitou permissão a Capitania dos Portos para aproximar-se da lancha que era uma unidade militar e a aproximação só com permissão das autoridades.
Imaginem a confusão que se meteram os dois Fuzileiros envolvidos na segurança da lancha.
A Capitania dos Portos ao ser comunicada e não entendo nada do que aquele cidadão pedia, entrou em contato com o Comando do Grupamento de Fuzileiros Navais em Uruguaiana, este por conseqüência procurou o Comando do Destacamento de Fuzileiros Navais de São Borja para entender que confusão era essa.
Só que todos estes contatos foram efetivados no dia seguinte, porque em 1962 não havia a facilidade de hoje nas comunicações, naqueles tempos, era só telegrafia ou os telefones pretos e com manivelas que funcionavam quando queriam.
O Nicácio e o Munhoz sem terem a mínima idéia do que acontecia nos bastidores, estavam apavorados porque quando chegaram a margem com a Cigana, após terem usado todas as técnicas que conheciam, a guria não reagia de maneira nenhuma, chegando a pensarem que ela esta morta.
Sem saberem que rumo tomar, e ao serem informados que a outra moça tinha sido resgata da lancha e estava em terra firme, resolveram levar a Cigana nas costas para a sede do Destacamento que nessas alturas já estava em grande movimento.
La chegando, foram orientados a colocarem a moça na enfermaria que o enfermeiro Swfiter tomara as providencias para reanimá-la, o que foi feito logo em enseguida e partir daí, os dois foram recolhidos preso para o alojamento e o Sargento de dia providenciou no encaminhamento da Cigana para o hospital da cidade.
O Swfiter que era um marinheiro e não fuzileiro, o que era comum nos quartéis da Marinha, especialistas na área de recursos humanos geralmente eram marinheiros da gola.
RESUMO DA HISTÓRIA
O Nicácio e o Munhoz responderam uma sindicância pela transgressão disciplinar que cometeram.
O Nicácio que era o que estava de serviço tomou 10 dias de prisão rigorosa, cumpridos na cadeia do 2º. Regimento de Infantaria do Exercito em São Borja.
O Munhoz que não estava de serviço mas também cometeu transgressão disciplinar, tomou 5 dias de prisão simples e os dois foram obrigados a pagar dois cobertores para completar a carga do almoxarife do Destacamento.
Passados 90 dias do acontecimento destes fatos, chegou uma mensagem via rádio do Grupamento de Fuzileiros de Uruguaiana, convocando os que haviam passado na seleção para o curso de Cabo na Ilha do Governador no Rio de Janeiro.
O nome do Nicácio constava da lista, só que com uma tarja vermelha, a punição sofrida não permitiu que ele realizasse a viagem com os outros.
Portanto o Nicácio perdeu a sua oportunidade de graduar-se, por ter sido o responsável direto pelo quase afogamento da Cigana.
Caxias do Sul, 06.11.2008
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
As histórias do Nicácio
A CAIXA D'ÁGUA
Esta história, tem 9 personagens que vão aparecer gradativamente no desenrolar dos fatos.
Existe no Plano Alto, uma praça que há alguns anos atrás era um dos pontos principais da Vila.
Essa praça que ainda existe, e hoje já não tem a mesma importância e o glamour de anos passados, fica no terreno onde está a estação ferroviária, que também teve muito valor na infância e vida de cada uma das pessoas que nasceram ou viveram nessa época, naquela localidade.
A estação também existe e ainda tem sua importância,só que hoje é uma importância diferente, sem influir diretamente na vida das pessoas que fazem parte da comunidade.
A importância de hoje, é no sentido de dar continuidade a movimentação de grandes composições que vão e vem, transportando mercadorias do centro do País para os Países do MERCOSUL.
A narrativa de hoje não é sob a estação.
A história é sob a importância que teve a velha caixa d’água que ainda se encontra lá, sem utilidade, mas majestosa, altiva,, imponente, como a dizer aos mais jovens:
Aqui estou, a observar a falta de respeito com a minha idade, sou velha é verdade, enferrujada, mas já fui jovem como vocês e na minha juventude, Fui de grande utilidade para esta comunidade da qual hoje vocês são parte.
Esta caixa d’água da qual falamos, foi em anos passados, companhia de um velho moinho, que imponente devido a sua altura, olhava os demais sempre de cima, alem de ter a nobre missão de fornecer água aos moradores através da nossa caixa, que não é a do governo e sim a velha caixa do Plano Alto.
No local tem um velho poço artesiano, que fazia parte do conjunto de objetos que citamos nesta narrativa.
O poço na escala de valores, sempre se sentiu inferior, por não aparecer, ser subterrâneo, mas era de uma utilidade fundamental, era o responsável pelo fornecimento da água potável que matava a sede dos moradores e nunca os deixou na mão, podiam existir as maiores secas nas redondezas, só faltava água quando o moinho quebrava, descendo do seu pedestal para ser xingado e amaldiçoado pelos moradores que não o perdoavam por estragar.
Nem sempre ele era o causador da falta de água, existia ainda a bomba, que submersa, sempre foi retraída, acanhada e não aparecia nunca a não ser quando quebrava e saia das profundezas do poço para ser concertada e elogiada com as palavras mais cruéis da comunidade.
Nesse quinteto, a Praça, o Moinho, o Poço, a Bomba e a Caixa, a disputa por atenção era muito grande, cada um queria ter o seu valor reconhecido.
Hoje quando contamos estes fatos, a situação é outra.
Tem um conjunto novo que abastece a comunidade e com certeza está tudo nos conformes, pois tudo que é novo é bom e eficiente, mesmo que não tenha a vivência e a experiência que só o passar dos anos acrescenta a seres e coisas.
É dentro deste contexto, que queremos relatar um fato acontecido, que na época foi muito comentado e causou alguns constrangimentos.
Vamos acrescentar quatro personagens que são os sustentáculos do assunto que estamos abordando.
São quatro pessoas dessa comunidade, dois já falecido um constantemente retorna ao seu habitat e o Zeferino, o Nicácio não sabe por onde anda.
Nicácio o guri de ontem, hoje é contador de histórias.
O velho da época, era o Tio João, conhecido de todos, e por morar em frente a praça, tinha a missão de zelar por aquele patrimônio que era útil para todos.
O Nicácio, autor deste conto era Negrinho da Vó Chata, que passava a sua infância como qualquer criança, brincando e fazendo arte.
O Vaneirinha tinha esse apelido, porque era metido a tocador de gaita de boca, só que por mais que insistisse como músico, não saia nada mais do que uma vaneira.
O Zeferino era filho de um velho ferreiro da Vila, mas praticamente criado com a Prof. Beda, hoje Patrona Benemérita da Escola.
Os moradores da Vila, sempre que passavam sedentos por uma água fresquinha, chegavam e saciavam a sede, usando um velho e enferrujado caneco feito de uma lata de compota de pêssegos que com certeza tinha deliciado antes de ser caneco, algum aniversariante da localidade.
Esse caneco ficava preso a uma pequena corrente feita de arame fino e ali ficava para ser utilizado quando necessário.
O Negrinho da Vó Chata como era conhecido nossa personagem, foi segundo os moradores mais velhos, o guri mais sem vergonha e arteiro da Vila.
Dizem até hoje as más línguas antigas e muitas atuais que ainda está para nascer outro tão puro como esse.
É claro, como diz o ditado quem conta um conto aumenta um ponto, dentro dessa filosofia, nem tudo que contam é verdadeiro, e muitas das que contam nem sempre era o Negrinho da Vó Chata, muitas vezes os protagonistas eram outros também impossíveis, mas quem levava a fama era sempre ele.
Mas esta que estamos contando é verdadeira, ainda existem algumas testemunhas do fato.
Certa feita, num verão daqueles que só ocorriam no Plano Alto e quem é cria de lá sabe como eram, vinha o Negrinho em baixo de um sol escaldante, a temperatura nas nuvens, em pleno meio dia, mas meio dia mesmo, porque não havia horário de verão, existia só o horário de Deus como muitos dizem até hoje e se recusam a aceitar essa novidade.
Lá vinha o Negrinho, louco de sede, pedindo como um pobre mortal, uma água gelada para refrescar a goela
Quando enfrentou a pracinha, fez o que todos faziam, dirigiu-se a uma pequena cancela que existia para dar acesso ao local da água, quando ouviu a voz do Tio João:
Que tu vai fazer ai Negrinho?
O Negrinho voltou-se e deu de cara com o Tio João que sempre estava camuflado numa sombra mateando, mas com uma visão total do ambiente.
Respondeu prontamente: Vou tomar água Tio João.
Não, respondeu o Tio João. Vai tomar água na tua casa, tu quer é fazer arte e isso ai não é pra brincadeira.
O Negrinho analisou a ordem recebida, pensou o que fazer, mesmo achando um absurdo ser proibido de tomar água como todos faziam, só porque era criança.
Era danado sim, sempre aprontava, mas era obediente e sempre foi orientado pela Vó Chata a respeitar e obedecer aos mais velhos.
Dentro destas circunstâncias, mesmo revoltado, deu meia volta e foi embora.
Passou todo o resto daquela tarde quente, matutando o acontecido, aquilo não podia ficar impune, algo tinha que ser feito para cobrar-se de tão grave agressão.
Resolveu procurar a sua parceria, a gurizada. Tão ou mais sem vergonha que ele para em conjunto analisarem e pensarem qual seria a resposta ao fato.
Juntaram-se e ele contou o acontecido, para surpresa de todos, isso não era um fato isolado, outros do grupo já tinham sido proibidos de beber água como ele.
Apesar de não ser o líder, nem sabia o que era isso, mas sempre foi respeitado dentro do grupo até por ser o mais peitudo nas falcatruas que faziam.
Sempre que surgiam esses tipos de problemas se reuniam e a decisão era acatada por todos.
Mas o Negrinho quando levou o problema a ser debatido, já tinha uma idéia na cabeça, só precisava do apoio dos demais.
As reuniões do grupo eram feitas no terreno da estação férrea.
O horário do passageiro, todos os dias era um acontecimento na Vila, os adultos desciam e embarcavam no trem, os maiores aproveitavam para namorar e os menores ficavam aprontando das suas.
Foi nesse ambiente que aconteceu a reunião do grupo.
Ali eram tomadas grandes decisões, é claro que nem sempre era
coisa boa, as vezes algumas safadezas como a decisão que foi tomada a respeito da proibição do Tio João.
Quando o Negrinho da Vó Chata contou o acontecido, a revolta e a surpresa foi geral.
A proibição era coisa costumeira, muitos já tinham sido proibidos de beber água na praça.
O tio João achava que guri não tinha sede e só iam até a praça para pisar nas flores, estragar e quebrar bancos, etc... na realidade era isso mesmo que a gurizada fazia.
Após as considerações e os elogios não publicáveis feitos ao tio João, venceu o plano apresentado pelo Negrinho da Vó Chata.
A reação tinha que ser em conjunto e de grande repercussão para que essa proibição fosse banida da praça.
Na Vila não tinha luz, a lua cheia deixava as noites claras demais para por em prática o plano a ser executado.
Ficou decidido, que esperariam as noites escuras para a execução da jornada.
Para não serem considerados radicais em suas decisões, decidiram que no intervalo da execução do plano, outros do grupo tentariam tomar água para testar as atitudes do tio João.
Todas as tentativas foram em vão, com exceção de dois deles que conseguiram tomar água sem problemas, os demais foram terminantemente proibidos de chegar a torneira.
Mais uma reunião foi feita para uma última análise, mas a decisão anterior foi confirmada sem problema.
Houve um pequeno impasse, e se não fosse possível no dia marcado executar o programa estabelecido para a realização do plano.
Após marchas e contra marchas, ficou definido que o Zeferino que era criado com a tia Beda, esposa do seu Londero proprietário de uma farmácia, resolveria a questão, conseguindo os ingredientes necessários para que ninguém falhasse na hora certa.
Todas as medidas foram tomadas e na noite marcada o plano entrou em execução.No outro dia, levantaram mais cedo do que de costume para ver o resultado da ação.
Começaram a passar no local e pressentiram que cada um que passava falava com o tio João, gesticulavam, esbravejavam e condenavam o acontecido.
Foi escalado um da dupla que não foi proibido de beber água, para fazer a sondagem a respeito do fato.
O escaldo, foi o Vaneirinha ( Adailson Falcão)( que era meio contra parente do tio João e por isso não foi proibido de beber água, mas com certeza quando descobriram esse parentesco, ficou claro que até lá no Plano Alto, naquela época, já existia o tal de nepotismo.
A novidade que o Vaneirinha trouxe foi a seguinte:
O copo usado para tomarem água na praça, tinha amanhecido cheio até a boca de M.... ( Feses ) e que o autor da proeza com certeza apesar de faltar as provas contundentes, tinha sido o Negrinho da Vó Chata, dizia o tio João para justificar sua acusação.
Três ontonte eu proibi ele de tomar água e com certeza em represália este ato condenado por todos, só podia ter sido o dito cujo.
GLOSÁRIO
Objetos – A Praça, Caixa d’água, Moinho,Poço e Bomba.
Perssonagens –
Nicácio o Negrinho da Vó Chata – José Vilmar P. de Medeiros
Tio João - João Souza
Vaneirinha - Adailson Falcão
Zeferino Soares:
1 - Foi o encarregado de surrupiar lacto purga pra gurizada, pra modo de não falharem na noite e hora marcada.
Obs.
2 – Vejam que nem tudo que contam sob o Nicácio o popular Negrinho da Vó Chata são verdades;
3- Passaram um longo tempo para acabar o trauma, pois cada vez
que alguém ia tomar água no novo copo, lembravam do acontecido com o velho copo e passava a sede.
Sant’Ana do Livramento, Fevereiro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
. Existiam dois clubes sociais na Vila do Plano Alto onde o Nicácio Nasceu e se criou. Um era o clube Charrua hoje CTG Candinho Bicharedo, onde freqüentavam as pessoas brancas e que tinham alguma posse, granjeiros, fazendeiros, enfim aquelas pessoas consideradas da alta sociedade local. O outro era o clube Gaúcho, administrado pelo Sr. Mulato, que além de presidente do clube era capataz de uma estância próxima a Vila. Esse clube reunia o pobrerio, peães de estâncias, e todos que estivessem nesse nível social.
AQUI FOI O CLUBE CHARRUA-HOJE CTG CANDINHO BICHAREDO
O clube Charrua era administrado pelo Sr. Darci Lopes, família essa liderada pelo Sr. Carlos Lopes e esposa Sra. Izolina. Os Lopes eram figuras importantes e respeitadas pela comunidade local.
Como criança não consegue discriminar ninguém por mais que seus pais os instruam, Nicácio era amigo do Jerônimo Lopes apelidado (JECA)sobrinho do Darci Lopes e neto do Sr..Carlos Lopes.Transcorria um baile de carnaval no dito clube, lotado com grande animação, o Nicácio na porta olhando. Negro e pobre, não podia nem pensar em entrar. O Jeca participando do baile saiu lá fora e pergunta: Tche Negrinho, porque tu não entra e dança um pouco ?
Como vou entrar ai ?
Negrinho, tu entra, até o tio descobrir. Quando te descobrirem e conseguirem te tirar pra fora, tu já dançou bastante. Conversou um pouco e entrou,Nicácio ficou quieto, mas a idéia lhe agradou.
Numa passada do amigo pela porta, chamou-o e disse-lhe:Tche Jeca, vou topar a tua idéia, vou dançar um pouco. Entrou e começou a dançar na volta como burro de olaria, até que deram o alarme e o pessoal da diretoria começou a persegui-lo sem, no entanto lograrem êxito, por que ai já contava com o apoio dos participantes do baile que o ajudavam discretamente a escapar.Dançou uns 15 minutos até que foi tirado pra foram sem apelação.
Sentou lá fora e começou a pensar no fato de,por ser negro e pobre não tinha o direito de partilhar com seus amigos aquela alegria.Não se conformou decidindo que se vingaria de tal atitude. Analisei os prós e os contras e o que poderia fazer para ter êxito nos seus propósitos. Olhou para os carros estacionados e lhe veio a idéia, pegou um palito de fósforo e começou a esvaziar os pneus dos carros. Depois com mais um fósforo e com muito jeito conseguiu tirar os ventis de todos os pneus sem ar, guardou numa caixa de fósforo e foi pra casa dormir.
Imaginem o sufoco quando terminou o baile. Todos sabedores de suas habilidades arteiras, de imediato ligaram o fato a sua pessoa. O CB João Almeida, da Brigada Militar que fazia o policiamento do baile foi até a casa do Nicácio e contou a Vó Chata o acontecido e pediu providências.
A Vó Chata era a Sra. Januaria Valença sua mãe de criação. Uma Negra Velha, parteira e lavadeira, que fazia a maioria dos partos na Vila. Para sorte deles Nicácio tinha guardado a caixa de fósforos com todos os ventis em baixo do sei travesseiro.
A Vó que nunca lhe deu moleza pelas falcatruas que o mesmo aprontava, ao saber da história, foi acorda-lo só que com um pedaço de tábua que usou para acaricia-lo pela malandragem que tinha aprontado.
Na ponta da tábua havia um prego, o que fez grande estrago na suas polpas.
Ela nunca se perdoou por não ter percebido aquele prego.
Assim foi que foram recuperados todos os ventís dos carros.
O seu grande amigo Jerônimo Lopes ``JECA`` é falecido, esta história fica em homenagem ``Post Mort`` a grande amizade entre os dois.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Sou de la, com muito orgulho
Sou de lá com muito orgulho,
A África é minha terra
São de lá minhas origens
Eu me sinto abichornado
Quando penso no meu povo
Como é que Deus permitiu
Tamanha barbaridade
Como é que a humanidade
Aceitou tal situação
Concordou com a escravidão
Sem nenhum constrangimento
Fui arrancado de lá
Cabresteado para cá
Sem o meu consentimento
Em feiras Eu fui vendido
Fui tratado como bicho
Valia menos que lixo
Para os donos desta terra
Eu habitei as senzalas
Das querências deste pago
Jamais senti um afago
Que não fosse do Feitor
Meu ungüento foi o sal
Que neste pampa bagual
Foi usado para o charque
Matéria prima de então
O escravo foi a mão
Usada para esse fim
Eu não consigo entende
Porque me trataram assim
Sou humano como os outros
Tive uma Pátria um País
Tive família e um povo
Fui cidadão, fui feliz.
Eu quero que me respondam.
Qual foi o crime que Eu fiz.
No ano de trinta e cinco
Alvorotou-se a senzala
Um comentário geral
Chegou aos nossos ouvidos
Que lá na Ponte da Azenha
Os Imperiais foram vencidos
Perdendo a Capital
Ecoou pelo Rio Grande
Um grito de liberdade
Diziam que a sociedade
Seria bem diferente
Se Eu, lutasse pela causa
Ganharia a alforria
Esse seria o presente
Acreditei na promessa
Desta vez Eu vou ganhar
Com vontade vou lutar
Pra Ter paz e uma família
Vou me unir aos Farroupilhas
Ir pro lado que me agrade
E jamais ver uma grade
Um tronco ou uma senzala
Minha casa vai Ter sala
Como a dos outros tem
Vou lutar pra ser alguém
Criar plantar e colher
Os meus filhos irão Ter
Direitos hoje negados
E as tristezas do passado
Nunca mais iremos ver
Fui traído novamente
Não tive paz nem família
Minha união com os Farroupilhas
Não passou de ilusão
Quando hoje a tradição
Enaltecem os seus feitos
Eu não consigo enxergar
Onde estão os meus direitos
Foram dez anos de lutas
Em combates memoráveis
Mas decisões lamentáveis
Mancharam a nossa história
E a inúmeras vitórias
Para mim foram uns fracassos
A lança de puro aço
Que com fibra Eu empunhei
Que os inimigos matei
Com coragem e ousadia
Jamais pensei que um dia
Fosse usada contra mim
Este é o meu lamento
Minha dor minha ilusão
Eu cultuo a tradição.
Sem ódio nem preconceitos
Mas também tenho o direito
De procurar a verdade
Quero Ter a liberdade
De saber como foi feito
Diz a história que Caxias
Escreveu para Moringue
Coronel quero que finja.
Um acerto com Davi
Pois a ele Eu, prometi.
Livrá-lo dessa enrascada
De libertar a negrada
Quando a guerra chegar ao fim
O resto deixe pra mim
Que a paz será assinada
Em quatorze de novembro
Do ano quarenta e quatro
Conforme diz o relato
Que se mantém em segredo
Um General Farroupilha
Que jamais foi surpreendido
Facilmente foi vencido
Pela malícia e astúcia
Do Coronel Chico Pedro
Para a paz ser assinada
Exigiram o meu fim
No massacre de PORONGOS
Nos campos de Santa Tecla
Acabou a esperança
De liberdade pra mim.
domingo, 15 de novembro de 2009
As histórias do Nicácio
Sim o trem.
Não o trem das onze.
O nosso trem,
É das sete.
Das sete e tanto.
Nunca as sete,
Sempre atrasado.
Referência de uma época,
De um tempo.
Tempo da nossa infância,
Dos nossos anos,
Dos anos desse trem.
Que ainda passa,
Diferente, imponente,
Sem as Marias fumaças,
Da nossa época.
Sem os encontros,
Na velha estação.
Que ainda está lá.
Velha, mas ainda um marco
Da nossa era,
Do nosso tempo.
PARTIDA
O que será ?
De quem ficar,
quando um de nós partir.
Nossos filhos,
não serão,
os que hão de vir.
Eles têm,
suas casas,
seus filhos,
seus destinos diferentes.
Por isso,
ficarão ausentes.
A vida, foi feita assim.
E um de nós
que ficar,
vai querer
ficar sozinho.
Pra curtir a sua dor,
do parceiro que perdeu,
Ao longo do seu caminho.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Naqueles Tempos
Corria o ano de 1975, e o Nicácio que nestas alturas já não era mais um peão de estância e sim um competente 3º Sargento Telegrafista, servindo em Uruguaiana , fez uma permuta (troca) com um colega de Quarai. Mesmo sendo natural de Uruguaiana resolveu mudar de ares. Como fui eu que pedi, não tive direito a ajuda de custo da transferência.
Jovem, casado com três filhos, foi forçado pelas circunstâncias a solicitar sua transferência, tentando com isso livrar-se da série de problemas que enfrentava em Uruguaiana, especialmente a falta de dinheiro e conseqüentemente o acúmulo de dívidas e a intranqüilidade familiar e funcional.
Nessa época as dívidas vinham para o Quartel e isso dava cadeia e constrangimento perante os colegas. O Quartel assumia as dívidas para ficar bem com a comunidade, no entanto descontava na folha de pagamento dos Policiais deixando-os a ver navios como diz o velho ditado.
Imaginem os Srs. como pagar aluguel, leite, pão, luz, água, etc. enfim como sustentar uma família com crianças sem um tostão no bolso.
Esse foi o verdadeiro motivo do pedido de transferência em questão.
A esperança era que mudando de cidade, resolveriam seus problemas financeiros. É claro que as dividas acompanhavam-nos para a nova Unidade Militar, o que quer dizer que o drama continuava, mas mesmo assim aquela mudança era uma esperança de dias melhores, novas expectativas, desejo de dar um melhor atendimento a seus entes queridos que mais sofriam com essa situação.
A realidade era nua e crua, a transferência não mudava nada, às vezes até piorava, porque na nova morada, tinha que começar tudo de novo.
Foi assim que foi o Nicácio transferido de Uruguaiana para Quarai, onde por não ter condições de pagar um aluguel, foi morar numa escola pública, onde duas salas de aulas foram transformadas em residência.
A mudança foi também de favor, seus trastes foram transportados num caminhão boiadeiro com restos de sujeira dos animais que havia transportado na última carga, imaginem o cheiro agradável que ficou nos seus pertences por longos dias.
Chegando ao novo destino, acomodaram-se da melhor maneira possível. A recepção dos colegas foi discreta, certamente no Quartel já tinham conhecimento de todos os seus problemas.
Chegou o fim do ano, a cidade preparava-se para as festividades natalinas. O Nicácio sem conhecer quase ninguém, também se preparava para as festividades já citadas, sem dinheiro, longe dos parentes, na realidade, só seus familiares e mais ninguém.
No dia 24 de dezembro aproximadamente as 22h30min, estavam sentados na frente da escola, as crianças brincando inocentemente, os transeuntes passando cheios de pacotes, transpirando alegria e eles apavorados pensando o que dar aos seus filhos naquela data tão significativa para toda a humanidade.
Foi quando avistaram dois soldados que também vinham alegres e faceiros com alguns pacotes, o Sd Cabreira e o Sd Miranda, que imediatamente pararam para conversar e desejar boas festas.
Certamente sentiram o clima de tristeza que havia entre aquela família e não tiveram dúvidas fizeram o convite.
Pessoal não queremos desculpas peguem o que vocês iam preparar para a ceia e vamos lá pra nossa casa, vamos passar o natal juntos como verdadeiros colegas.
A esposa do Nicácio, Dª Faustina baixou a cabeça e não conseguiu responder, o Nicácio agradecido e comovido não sabia como explicar que eles não tinham nada para levar. O Sd Cabreira pressentiu a situação e reforçou o convite com as seguintes palavras: Olha gente, não precisam levar nada, a esta hora já está tudo pronto, fechem a casa peguem as crianças e vamos logo, é bem perto daqui.
Dª Faustina não conseguiu segurar a emoção, começou a chorar copiosamente e justificou-se que estava com saudades de seus familiares que moravam em Porto Alegre.
Passaram o Natal mais importante de suas vidas, eles tudo fizeram para que ficassem a vontade, não sei como, e nunca tive coragem de perguntar, mas conseguiram inclusive presente para os filhos do Nicácio que não iam ganhar nada, se ficassem em casa.
Esses dois colegas ofereceram naquele momento o que mais o Nicácio e sua família precisavam calor humano, solidariedade.
Esse fato aconteceu a mais de 30 anos, mas todos os Natais do Nicácio e Dª Faustina, que a partir daquela data estão sempre juntos e felizmente com fartura, na hora da ceia eles, o Sd Cabreira e o Sd Miranda, são lembrados com muito carinho.
Esse foi o melhor convite que podiam ter recebido naquele momento.
O Nicácio, Dª Faustina e seus filhos dedicam esta história a esses nobres companheiros: Sd Cabreira ‘’Post Mort’’ e ao Sd Miranda que perderam contato há muitos anos. Eles jamais foram sabedores da repercussão do seu gesto
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
O querer não tem limitesw
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
As histórias do Nicácio
Por ocasião da seca contada na
história das carreiradas na estância, o pai do Nicácio, que morava na casa do seu Bélico, fazia o trajeto de ½ légua de bicicleta para poupar os cavalos que estavam muito fracos.
As vezes, dependendo do serviço executado, ou alguma campereada nos campos próximo de onde morava, ele já ficava em casa, motivo pelo qual as vezes a bicicleta permanecia na estância, o que sempre era uma festa para a gurizada e principalmente o Nicácio que sempre que podia dava uma treinada naquela modalidade de transporte que era uma novidade, imaginem uma bicicleta lá pelos anos 50, correspondia a um limusine, o que fazia o seu dono cuidar e zelar, inclusive nas redondezas era a única a chamar a atenção de quem não tinha familiaridade com esse tipo de veículo
Um fim de semana como tanto outros nos longos 04 anos que moraram naquela localidade,o pai do Nicácio deixava a bicicleta sempre fechada em seu quarto particular que tinha direito no galpão.
Para surpresa do Nicácio , terminado o serviço da semana,seu irmão mais velho, andando pelo galpão deparou-se com a bicicleta encostada na roda de um trator dentro do galpão. Não conteve a alegria e correu para contar ao Nicácio a descosberta.
Imediatamente, se organizaram para dar umas voltas de bicicleta, inclusive decidindo no par ou impar para ver quem andava primeiro.
Entre o galpão e a cozinha dos peões, tinha uma estradinha de aproximadamente uns 30 metros, que acabava na frente da cozinha onde existia um enorme paraíso, de sombra frondosa onde a peonada tomava mate e contávam as novidades do dia nas horas de folga.
Vindo do Galpão em direção a cozinha, tinha um pequeno declive, ali foi o local escolhido para demonstrarem suas habilidades com o veículo em questão.
Após várias voltas, cada um tetentando mostrar que era mais hábil na condução da bicicleta Nicácio convenceu seu irmão a sentar no quidom, o que foi feito e impulsionou o veículo largando na pequena descida. Só que não calculou a velocidade que pegaria com dois em cima.
Andaram tranqüilos, só que quando tentou segurar o freio rebentou e sobrou o paraíso como alternativa para parar. O seu irmão vendo que se rebentaria se batesse de frente, saltou fora deixando o Nicácio com a responsabilidade de fazer a geringonça parar, o que não foi possível.
Resultado, entrou de cara no paraíso.
Quebrou um dente e a bicicleta, rebentou o eixo da roda dianteira e entortou todo o aro.depois de analisarem o tamanho do desastre, ficaram pensando como descascar o abacaxi que seria quando o pai descobrisse tudo. Com certeza ia sobrar pra o Nicácio como sempre, além do dente quebrado e alguma escoriações teria que suportar o relho do velho.
Porque sobrar pra ele e não pro seu irmão?
Porque o seu irmão trabalhava na casa grande, tinha o privilégio de ficar protegido pelos donos da estância, lá o pai só ia quando chamado para receber alguma ordem, quanto ao Nicácio que era peão do galpão não tinha outra saída a não ser agüentar o tirão
Analisaram durante um largo tempo, como consertar o estrago, não tinha o mínimo conhecimento, consequentemente, endireitaram a roda da melhor maneira possível e colocaram um prego de atracá no lugar do eixo dianteiro e ataram com um arame fino, era certo que quando o pai tentasse andar seria descoberta toda a falcatrua do acidente.
A bicicleta ficou quase duas semanas sem ser usada, até que um dia seu pai disse ao irmão caçula que tinha vindo com ele pra estância, que assim que terminassem de dar remédio para o rebanho, iriam de bicicleta para casa.
Foi o que aconteceu, bem a tardinha o velho pegou a bicicleta, botou o irmão no porta pacote e assim que saiu do para- peito na frente do galão, empurrou desconfiado a bicicleta e montou, não chegou a andar 5 metros e desequilibrou-se e caiu de todo o comprimento, com a bicicleta e o guri que levava, por cima dele.
O irmão do Nicácio vendo o estrago, resbalouce para a casa grande e p Nicácio não tive outra atitude a não ser esperar o resultado da queda do pai.
Ele já tinha desconfiado que algo estava errado, para não ariscar, pegou o relho, botou atrás da porta do galpão, já pronto para afofar os dois a pau.
Calmamente encostou a bicicleta na cerca e virou-se dizendo:
Nicácio vem aqui. Pega essa porcaria e vai desfazer o que vocês fizeram.
Só que quando o Nicácio virou-se ele já vinha com relho na mão. Deu uma surra daquelas conversadas, sem muita pressa, cada volta de arame que o Nicácio dava para desatar o prego, tomava um laçasso, fazendo com que até hoje quando se atreve a dar uma de escritor e colocar no papel a sua infância na campanha, sinta arrepios da surra que levou.
Quanto ao outro ordinário, que se escapou por ser puxa saco dos patrões, desafiava o Nicácio quando a bicicleta era deixada por gosto a disposição: Tchê o pai deixou a Bicicleta, não vai dar uma voltinha?
terça-feira, 20 de outubro de 2009
ReTalhos de vida
Apaixono-me pelas praças,
Nas vilas e nas cidades.
Lugares de todos nós.
Nelas vejo a integração,
De jovens, velhos e moços.
Que não querem ficar sós.
As crianças tomam conta,
Em imensas travessuras.
Usando os seus brinquedos.
Os velhos contam histórias,
A sombra dos arvoredos.
As crianças se divertem,
Correndo pra todo lado.
Não discriminam ninguém,
Suas consciências são puras.
Pela a inocência que têm.
Os velhos não ficam atrás,
Reivindicam seus espaços.
Com seus iguais e parceiros,
Também se sentem os donos.
Remoçam com a gurizada,
Pensando no seu passado.
Que também foram arteiros.
Quantos sentados
Em seus bancos,
Tomou grandes decisões.
São lugares para sonhos,
Relembrando a tenra idade.
Quantos namoros tiveram,
Quantas artes nós fizemos,
No tempo da mocidade.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
As histórias do Nicácio
Ilustração 1 –
Aqui nasceu o Nicácio
Nicácio nasceu num galpão, não foi o primeiro e nem será o último, acredito que mesmo com o progresso hoje existente, ainda muita gente nasce em galpões.
O galpão que o Nicácio nasceu servia para guardar materiais da casa, um verdadeiro depósito, tinha um pouco de cada coisa, inclusive o cantinho onde a mãe do Nicácio aninhou-se para pari-lo.
Galpão para quem não sabe, é o nome dado a uma edificação rústica, em tempos passados de barro e capim, mais tarde de tábuas e hoje geralmente de alvenaria. O que o Nicácio nasceu já era moderno, era construído de tábuas.
Hoje os galpões são diferentes, tem um relativo conforto, luz elétrica, lareira com chaminé, televisão, banho quente, quartos para os peões. Antigamente, não tinha camas, dormia-se em catres ou em camas de pelegos no chão a beira do fogo com muita fumaça.
Na realidade, era uma senzala, a única diferença é que não se dormia trancado, não tinha tronco para castigar as pessoas e nem correntes para acorrentá-las.
O galpão onde nasceu o Nicácio, conforme afirmei no início, não era de estância, mas era um galpão com as mesmas características, só que era numa Vila, hoje quase uma pequena cidade.
Quando o Nicácio nasceu nesse galpão e nessa Vila , existia muita pobreza.Os pais do Nicácio muito pobres moravam nesse galpão que pertencia aos pais de criação da mãe dele, que foi dada que nem ele, alguns dos seus irmãos e nossos ancestrais.
Foi nesse galpão, que através da habilidade de uma parteira de campanha que Nicácio veio ao mundo, nesse mundo de hoje cheio de preconceitos, problemas, desacertos, desentendimentos, que naquela época também já existiam.
Assim que meteu a cara pra fora, um impasse.
Seus pais não sabiam como iam criá-lo, era mais uma boca para alimentar.
Foi diante dessa dificuldade que a parteira deu a sugestão necessária para sanar o problema.
Se me derem pra mim eu crio esse Negrinho.
A decisão foi imediata, Nicácio foi dado na hora, seguindo o caminho de outros irmãos que também foram dados.( Negros Dados)
Apesar de ter sido dado, foi uma doação diferente. Com sua mãe adotiva, teve muito carinho, não só dela como dos seus irmãos emprestados e seus tios que apesar da pobreza viviam harmoniosamente e tudo faziam para agradar e atender as suas necessidades básicas.
Sua infância foi como a de qualquer piá pobre, só que com uma diferença marcante. Ele era pobre e negro.
Mas para surpresa sua não consegue lembrar de fatos marcantes ou desagradáveis que pudessem marcar sua personalidade.
Ele inclusive acha que na realidade, fui adotado não só pela Vó Chata, mas também pelos moradores da Vila.
É conhecido até hoje como o ‘’Negrinho da Vó Chata’’.
A seu respeito contam muitas histórias, umas verdadeiras outras inventadas, mas nenhuma que desabone sua pessoa ou seu familiares.
Algumas dessas histórias vou contá-las para que os leitores façam o seu julgamento.
Quando ele vai ao Plano Alto, é procurado por jovens e velhos, os jovens querendo saber se as histórias são verdadeiras e os velhos dizendo que participaram ou assistiram muitas das suas falcatruas de guri.
Ele fica muito feliz ao ser lembrado com carinho pelos moradores do local onde nasceu..
Aqui em Livramento, onde mora a mais de 30 anos, tem três amigos Plano altenses, O Adailson Falcão, o Álvaro Murad, e a Marlene
Lembra ainda das famílias cujos filhos foram guris com ele. São eles os Falcões, Polanos, Varelas, Freitas, Souzas, Goulartes, Camargos, Jacques, Pereiras, Lopes, Soares, Jardins, Correas, Aripes, Rebés, Almeidas,Ajallas e tantas outras que no momento não lembra. Antes de publicar este capitulo, vai procurar conversar com amigos e pessoas daquela época para que fique registrado sem esquecer-se de ninguém.
Uma coisa ele tem certeza. Essas pessoas tiveram de uma maneira ou de outra, grande influência na formação da sua infância e na trajetória do que tornou-se com o passar dos anos.
Quando encontra com os amigos e comum recordarem o tempo de guri e as falcatruas cometidas .
Aqui em Livramento, relembra seguidamente em conversas de fim de tarde, sua infância com muito orgulho.
Quer neste livro deixar registrado não só a sua infância, mas a infância de todos amigos que lhe ajudaram a formar a personalidade que tem até o dia de hoje.
As suas histórias, serão as histórias deles, elas só aconteceram em função da amizade que envolveu a todos.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Schow Enio Medeiros
Hoje vamos divulgar o encontro dos Medeiros e o Schow do Enio Medeiros acontecido na Pastoril no dia 04 de outubro de 2009, só faltou o Pai da tocera Ulisses Medeiros com 96 anos e o nosso irmão João Medeiros que não pode vir, é claro que faltaram, netos e sobrinhos que se viessem não precisaria vender ingresso só a familia encheria todas arquibancadas.
Na primeira foto, já em casa, o Vilmar o Hugo e a sobrinha Gaby.
Como vai ser dificil nomear todos, vou deixar que os conhecidos e familiares se achem nas várias fotos que postei. Na próxima oportunidade que o Enio tocar em Uruguaiana, vamos nos organizar e levar a maioria dos familiares, para mostrar o potencial dos Medeiros.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
As histórias do Nicácio
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Entre umas e outras
O Nicácio foi Brigadiano e dos bons, briga até hoje depois de 20 anos na reserva, quando ouve o assiste alguém falando da Briosa, como a familia Brigadiana chama a Brigada Militar. Pois o Nicácio servia em Porto Alegre, quando veio tirar umas férias numa estância que seu pai foi capataz por 20 anos.Já no primeiro dia foi infeliz em sua empreitada. Desembarcou do Bonde nas três bocas e foi para a estância de carroça, lá chegando a sua espôsa foi pra cosinha onde tava sua mãe e o Nicácio foi direto pra mangueira onde estavam capando potro. O capador era um compadre do pai do Nicácio de nome Ramão Delgado. Entre os laçadores e o pessoal que lidava na mangueira, estava o surdo Aramis, também que nem a história do Cebolinha, mais surdo que uma porta, mas indio campeiro, domador e apesar da sua surdez mentiroso barbaridade. No momento que o Nicácio chegava na mangueira o Ramão Delgado gritava pra o Aramis, segura firme tchê porque daqui a pouco eu vou te passar a faca nas bolas, todos riam com a brincadeira e o surdo que não sabia o motivo ria também para ser um bom parceiro. O Nicácio que quando guri foi ginete e campeiro também, entrou dentro da mangueira já arrotando, puxa vida tenho que vir da Capital pra laça pra vocês, se não for a minha habilidade no laço termina o serviço aqui. Dito isso passou a mão num soveu de couro de capincho,destrenado mas sabendo o que ia fazer, buscou a volta e sem reboliar o laço que é o que se faz para laçar equinos, botou bem tronco do pescoço do potro, quadrou o corpo,calçou o garrão e esperou o simbronaço que veio ao natural, só que o indio da Capital e mãos finas e delicadas, não aguentou o repuxo, o soveu correu em suas mãos e seu quadril, limpando tudo que era coro que achou pela frente. Resultado o nosso Nicácio, campeiro e mostrando que realmente não tinha esquecido das lidas campeiras, ficou os quinze dias de férias que tirou na estância, curando as mãos e e quadrilho que ficou totalmente pelado com o acidente.
domingo, 27 de setembro de 2009
Semana Farroupilha - Livramento - rs
TRADICIONALISMO
PARCERIAS
O mundo moderno e não só ele, já nos idos tempos do nossos avós existiam as parcerias para que as coisas se tornassem mais fáceis para serem executadas.
Com todo o progresso e a tecnologia atual, as parcerias ainda são necessárias em todos os segmentos sociais, seja ele político, administrativos, estatais ou privados.
Santana do Livramento, não é diferente de nenhum lugar do mundo ou melhor Santana é totalmente diferente de qualquer outro lugar, mas com todas suas características peculiares da nossa região, aqui as coisas acontecem e com muito sucesso exatamente pelas parcerias que são acertadas em todos os segmentos da nossa comunidade.
No tradicionalismo, onde tivemos grandes ganhos, ganhos estes que conseguiram colocar este segmento no topo do mundo, com um desfile internacional demonstrando a integração total que só aqui existe, onde o nosso desfile mantém a união universal de nossa gente, onde brasileiros e uruguaios irmanados unem-se para mostrar ao mundo tão desregrado, que aqui não existem fronteiras, que aqui não há divisões, que aqui a divisa não divide, pelo contrário integra duas nações.
Pois aqui neste paraíso, nesta fronteira única, tivemos por contrariedades de alguns a perda de um grande parceiro, que nós dava gratuitamente apoio logístico, infra estrutura que não pode de maneira nenhuma ser desconsiderado por quem quer crescer.
O parceiro que perdemos, foi a ACIL Associação Comercial e Industrial de Livramento, que cansada de ser agredida gratuitamente, decidiu certamente por unanimidade de seus pares retirar-se da Comissão Permanente da Semana Farroupilha.
A Coordenadoria Municipal de Tradicionalismo desta cidade, que congrega 90% das Entidades Tradicionalistas da nossa cidade, agradece de publico esta parceria, que no nosso entender foi benéfico não só para os Tradicionalistas, mas para o evento Semana Farroupilha, que é uma festa da comunidade e dos gaúchos.
Sou membro efetivo da 18ª Região Tradicionalista e nas reuniões que participo nas 11 cidades que congregam essa Região, seguidamente vejo tradicionalistas dessas cidades reclamando a falta de apoio do poder público e das autoridades constituídas, pois aqui onde os Tradicionalistas tem o integral apoio dessas Entidades, mesmo assim a discórdia as divergências, as vaidades pessoais contestam o valor dos verdadeiros parceiros a ponto dos mesmos desgastados com colocações inverídicas e para salvar a honorabilidade de seus pares, acabam desistindo para olhar de fora um evento grandioso que têm a certeza que ajudaram a criar.
Portanto, fica o nosso sentimento de perda pela retirada da nossa grande companheira ‘’ACIL’’ que durante estes anos nos ajudou a formatar a festa mais importante para todos Tradicionalistas ‘’ A SEMANA FARROUPILHA ‘’.
Após o término do evento deste ano, fica aqui a nossa critica a todos os erros cometidos que só não prejudicaram a festa, porque ela acontece ao natural, brota do povo e do verdadeiro homem da campanha.
Parabéns as Entidades e principalmente parabéns as não filiadas que são maioria absoluta e que se alijadas do seu direito universal de participação ai sim a festa jamais será a mesma.
Fica aqui o nosso sentimento de perda, pela falta que fez e fará sempre a ACIL em qualquer evento que envolva a comunidade como um todo.
Que os erros cometidos neste ano, sirvam para os próximos participantes dessa Organização fazer uma mea-culpa e dar o direito de participação de todos, filiados ou não.
Apesar de termos uma lei Municipal que foi elaborada para conciliar e auxiliar quem organiza, esta foi totalmente desrespeitada.
Fica o meu protesto veemente contra esse Dec. Estadual que determina a participação da Prefeitura como convidada, quando penso que o Poder Público Municipal tem que ser inserido dentro do contexto dessa festa, pois sem o Poder Público ela não acontece.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
PRIMAVERA
Nesta trova de quimeras
Sentindo o cheiro das flores
No inicio da Primavera
A Primavera nos brinda
Com odores direrente
Que bom estarmos aqui
Recebendo este presente
Os jardin ficam floridos
Os campos mudam as cores
Por isso somos felizes
Com a chegada das flores
Livramento e Rivera
Nesta fronteira infinita
Floridas como estão
Cada vez são mais bonitas