
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Reflexões - 4

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Reflexões
Aqui estamos novamente, com o mesmo título, Reflexões. Acho que me apaixonei por este título, recorro ao dicionário para ter a certeza que ele realmente me faz dizer o que penso, então vejamos: REFLEXÃO - retroceder, reproduzir, pensar, meditar, etc... Bem felizmente estou no caminho certo, chego a pensar que reflexões, me recordam a flexões que eram pagas como castigo, que o Cb Fn Batista ou os Sds Fn Pedro determinavam , paga 20 por qualquer rateada que o aluno desse. Mas hoje, quase ao término de 2009, escutando através do blog da AVCFN-RS a canção CISNE BRANCO que entre tantas estrofes, diz QUANTA ALEGRIA NOS TRAZ A VOLTA, amigos com os olhos cheio d'água retorno la em 1961 quando então jovem cheio de vida e esperança no futuro, com o peito estufado de orgulho, desfilava garbosamente ao som da nossa querida Banda Marcial. No último dia 15 de dezembro, tive a oportunidade de partilhar mais uma vez a amizade e o companheirismo dos colegas veteranos, Bottaro e Aires. Pernoitei na casa do Aires no Bairro Guarujá as margens do Rio Guaiba em Porto Alegre, tivemos a oportunidade de enquanto degustavamos alguns quitutes e umas geladinhas, lembrar dos tempos áureos, quando curtimos com muitos companheiros o orgulho de ostentar a farda caqui dos Fuzileiros Navais. Histórias foi o que não faltou, lembramos dos Fuzileiros 104, Covero, Romildo, Munhoz, Veludo, Zé da Hora, Quarentinha, Sucuri, Panitz, Vilobaldo, Sgts Wilson, Gurgel, Roque, Moyses, Rubens, Soares, bem foram tantas lembranças que nos trouxeram a volta dos áuereos tempos. Fiquei triste de não poder participar de um almoço de confraternização na Ilha dos Navegantes patrocinado pelo Pres. Aymone, tinha outros compromissos e não foi possível ficar. Fui provocado para contar algumas histórias do nosso tempo, inclusive sob o cabaré do Ivo que hoje é história em Uruguaiana, o seu mausoléu e visitado por milhares de pessoas e sua carruagem o seu táxi da época encontra-se no museu , onde era o antigo QG da 2ª. Divisão de Exercito, tenho certeza que muitos fuzileiros andaram de carona com o dito cujo.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Reflexões
Reflexões, gostei do titúlo, por isso vou repeti-lo. Hoje como todos os seres humanos, estamos envolvidos com o Natal e Ano Novo. Que me perdoem os católicos ou aqueles que praticam qualquer outro tipo de religião, eu sempre fui descrente, um pouco desligado das atividades que se preocupam com a alma, o espirito, enfim sempre me preocupei em sobreviver, em lutar para tirar não a cabeça, mas o nariz para fora d'água e respirar, o que nem sempre foi muito fácil, mas também não deve ter sido muito difíciel porque aqui estamos e pretendemos ainda ficar por mais uns longos anos aqui na terra. Voltando ao pensamento natalino, tenho ao longo de muitos anos analizado as mudanças e cheguei a seguinte conclusão, o Natal está perdendo de goleada para o Ano Novo. Eu sempre contestei essa data, e não conseguia entender o porquê de tanta gente ganhar presentes e a maioria não ganhar nada. Nunca conseguia entender porque o Papai Noel sempre era branco e discriminava não só os negros mas os de qualquer raça que não tivessem dinheiro ou posição na sociedade. Nunca fui muito simpático ao velhinho, na realidade nunca gostei dele, ele sempre trazia presentes lindissimos para os ricos ou remediados e para os pobres como eu e tantos outros as vezes sobrava umas balinhas atiradas de longe sem ao menos parar para um papo amigável. Ainda para me ajudar nas relações inamistosas com o velhinho, os lugares por onde passei ele nunca teve muita importância o que me deixava de uma certa maneira satisfeito. Me criei em campanha onde não tinha natal, ano novo, aniversário e outras tantas coisas que se comemora na cidade, de repente seja por isso a minha aversão so nosso bom velhinho. Para completar, servi 4 anos e meio na Marinha de Guerra do Brasil, com Fuzileiro Naval e 24 anos e 6 meses com Policial Militar na Brigada Militar do nosso Estado e como todos sabem, milico não tem direitos a essas solenidades, milico tem que cumprir com os regulamentos, se estiver de serviço ou cumprindo alguma missão especial, cursos, etc... o velhinho não tem a menor imprtância, o ano novo ou qualquer outro tipo de comemoração, é claro que todos essas atividades foram motivo para eu não dar a mínima não só ao velhinho mas a outras atividades e comemorações que são normais na sociedade e na familia. Mas mesmo não simpatizando com o bom velho, tenho analizado que ele perdeu o seu poder de sedução, até as criança já não consideram tão importante como outros tempos, o que tornou-se importante em relação ao seu nome, foi apenas a data comercial, onde interessa até para quem realmente crê no bom velhinho. Neste meu análise que tenho certeza muitas ou a maioria das pessoas não vão concordar, vejo durante o dia a dia de cada um, as agressões não só físicas como verbais, pessoas que tratam mal a todos que nesta data pensam com um presente resolver tudo, colocar uma pedra em cima do mal que fizeram o ano todos. Em compenssação, o Ano Novo reflete-se maior integração entre familiares e amigos, que reunem-se sem a necessidade dar presentes e sim com a única e específica finalidade de estarem juntos, confraternizando e nessa confraternização, só estão juntos aqueles que realmente gostam uns dos outros e que sentem-se bem e realmente trocam gestos carinhoso com as pessoas que lhe são importantes.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Reflexões
Queridos amigos, cá estou, perdido, desiludido,perplexo, sem rumo, na realidade já não sei o que é certo ou errado. Me parece que hoje o errado é o certo e o certo passou a ser o errado. Meu pai criou a todos nós, seus filhos e os pais de toda a nossa geração, também os criou ensinando o que era certo e o que era errado. Os anos passaram-se, a vida continuou sendo vida, mas de maneira diferente, o avança teconológico atropelou os costumes e tudo virou uma verdadeira balburdia, onde não mais agir corretamente é o certo, o certo é agir indevidamente em todas as circunstâncias. Corrupção, roubos, fraudes, aconchavos, maracutais, cambalachos, safadezas, encontram-se em todos os seguimentos sociais. É comum os noticiarios divulgarem enes arbitrariedades e mais comum ainda, são as formações de CPIs, Comissões de Inqueritos, Comissões de Ética para julgar o procedimento dessas arbitrariedades que são noticiadas e que geralmente os resposáveis são autoridades, políticos, governos, ministros, cargos de confiança etc... Mas o mais comum e que já tornou-se corriqueiro são os resultados apresentados por essas formações encarregadas de identificar e punir os culpados, elas em 90 por cento dos casos, não acham culpados e os 10 por cento restante que conseguem achar algum culpado que na maioria das vezes são os chamados peixes pequenos, jamais vão a julgamento. Pois dentro desse quadro estarrecedor de coisas erradas, ainda existia uma instituição que merecia respeito, mas que também por atitudes tomadas por seus dirigentes, vinha perdendo espaço e credibilidade. Mas mesmo assim, em encontros, congressos ou convenções, pregava a moralidade em primeiro lugar, gritava aos quatro ventos a maneira correta de agir e vestir, quem não rezasse por seus regulamentos, com certeza sempre enfrentava punições severas ou a expulsão sumária de seus quadros. As pessoas na maioria obedeciam por medo ou por falta uma postura contraditória em relação as penas sofridas. Esta Instituição é o MTG - MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUCHO, segundo seus dirigentes e muitos seguidores, o último baluarte da moralidade em nosso Estado. Eu apesar de seguidor desse grupo, mas por não concordar com certas filosofias e atitudes de seus dirigentes e ainda por já ter tido alguns enfrentamentos, olhava com uma certa desconfiança o movimento. Pois a casa caiu gente, o seu líder maior, Presidente do MTG, cometeu um ato ilicito, recebeu por quase dois anos dos cofres públicos sem ter trabalhado segundo as noticias que chegam até nós. Até ai tudo bem, nada de novidade, o Sr Pres simplesmente é mais um de tantos outros que andam por ai. O que é estarrecedor companheiros e leitores, é que quem deveria punir, tomar uma atitude drástica em relação ao assunto, é um dos maiores defensores do culpado, a ponto de conseguir inverter os fatos, transformando o culpado em vítima e com isso obteve o apoio irrestrito de todos os 30 Coordenadores de Regiões no apoio a esse Pres. para que além de não ser punido, seja candidato único a uma nova eleição. Sinceramente, estou sem rumo e perdido, já começo a acreditar que o errado sou eu em criticar quem não trabalha e recebe, tenho dúvidas em afirmar que certo é o operário que para receber um salário mínimo, tem que trabalhar todos os dias úteis da semana. UMA FELIZ FESTAS A TODOS E ATÉ 2010.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Contos da Caserna
A LANCHA
Corria o ano de 1962, o Nicácio servia como Fuzileiro Naval no Destacamento de Fuzileiros Navais na cidade de São Borja.
Entre tantas atividades inerentes a função dos Fuzileiros, tinha uma que era disputada por todos e que seguidamente eles trocavam entre si as escalas ou tiravam o serviço em dupla.
Essa missão era o de guarda da lancha no rio Uruguai.
A lancha: Bem a lancha era um meio de transporte fluvial para diligências ou patrulhas que eram realizadas no rio que faz divisa do Brasil com a Argentina.
A patrulha é claro eram feitas no lado brasileiro, a não ser o que o responsável às vezes sem saber ou intencionalmente ultrapassasse a linha imaginária que dividia os dois Países.
Quando o comando estava com o Cb. Paiol, bem ai tudo podia acontecer, porque ele não tinha limites em suas ações.
As patrulhas tinham o objetivo de inibir o contrabando ou descaminho de café, açúcar e pneus para o lado Argentino e farinha, cebola, azeite e carne para o lado brasileiro.
Fora esses detalhes, a missão mais importante era a soberania nacional sob as águas fluviais brasileiras e o que levava a todos que participavam ter uma grande honra em desempenhar tal missão.
Além disso, quando a lancha não estava em patrulha, ficava ancorada na costa brasileira, num pequeno porto sem trapiches que ficava nos fundos do destacamento.
Todos os dias tinham fuzileiros escalados para permanecer na lancha com o objetivo de guardá-la e protegê-la de qualquer dano.
Ai começava os problemas da história que estamos contando.
A lancha, além de todos os apetrechos correspondentes a uma unidade militar, tinha objetos normais e inerentes a uma atividade fluvial e militar, indispensáveis a uma missão como aquela.
Ela, a lancha, possuía em sua proa um pequeno alojamento com duas camas, uma a bombordo e outra a estibordo, essa comodidade, possibilitava que sempre que o Fuzileiro que estivesse de serviço, se lhe agradasse, podia levar um companheiro para não ficar isolado na missão.
Dificilmente ficava só um, sempre havia um companheiro e para que não ficassem os dois sozinhos, era normal que as namoradas de ambos os acompanhassem, o que acabava complicando tudo, porque afinal, a lancha era uma unidade militar e era expressamente proibido pelos regulamentos militares que civis permanecessem em áreas militares, principalmente se fossem do sexo feminino.
É claro que o sacrifício das namoradas era para não deixar seus amores sozinhos em tão árdua missão.
As enchentes, sempre foram da normalidade da região, mas quando o rio estava cheio, realmente a missão era complicada e muitas vezes arriscadas.
Numa dessas enchentes o rio estava de barranca a barranca, a correnteza muito forte, com grandes toras descendo rapidamente, a água turva e grandes remansos, a lancha ancorada a mais de 50 metros da margem, sem parar, balançando-se nas ondas de mais de metro de altura.
O Nicácio era o responsável pela lancha e sentiu que todo cuidado era pouco para chegar até ela.
O pequeno trajeto era feito numa pequena chalana movida a remos o que para os jovens e experientes Fuzileiros era moleza.
Só que:
Tanto o Nicácio como seu colega Munhoz que nessa noite seria seu segurança, estavam acompanhados, cada com uma namorada.
O Nicácio ainda lembra-se do nome da sua, ou melhor, do seu apelido, ‘’Cigana’’ a outra que acompanhava seu colega, não tem a menor idéia de quem fosse.
As duas menores, mas naqueles tempos, não tinha conselho tutelar e transar com menores não era tão rigorosa como é agora.
As duas estavam com muito medo de fazer o pequeno trajeto e os dois Fuzileiros pressentiam o perigo e estavam não com medo, mas apreensivos e sabiam que a mínima vacilada e daria um grande problema.
O Nicácio, primeiro levou até a lancha o Fuzileiro Munhoz e sua namorada, voltando para levar a Cigana que tinha ficado na barranca.
O retorno foi feito com alguma dificuldade, a correnteza estava muito forte e o vento fazia as ondas balançar perigosamente a pequena embarcação.
O Munhoz estava parado na popa da lancha observando a minha manobra pra encostar a chalana a estibordo, local que seria mais prático para a Cigana fazer o transbordo
A Cigana tinha embaixo do braço esquerdo duas mantas dobradas, quando a chalana encostou ela segurou-se na lancha, com este movimento a chalana abriu um pouco deixando um vácuo de mais ou menos um metro e meio entre as embarcações, era só ela puxar firme e a chalana se aproximaria da lancha o que facilitaria a operação.
O Nicácio que viu o pavor nos olhos de sua companheira pressentiu o que poderia acontecer se ela soltasse a lancha.
Tentando evitar o pior, falou firme, mas sem gritar: não solta a lancha.
O alerta funcionou completamente ao contrário.
Ela com os olhos esbugalhados de pavor, ao ouvir a advertência, largou a lancha e imediatamente caiu na água, com o movimento brusco, a chalana desequilibrou quase virando , fazendo com que o Nicácio em vez de prestar atenção na Cigana , se preocupasse em não deixar a chalana virar.
A Cigana ao cair permaneceu por uma fração de segundos a flor d’água agarrada as duas mantas e logo a seguir afundou num redemoinho de água e espumas.
Quando apareceu, foi a uns cinco metros de onde tinha caído, já descendo a forte correnteza e afundando novamente.
O Nicácio deixa neste relato um agradecimento ao Cb. Batista e sua turma de instrutores.
Valeu os exercícios e instruções do curso de formação de Sd. Fuzileiro Naval.
1º. – Não se apavorar, manter a calma;
2º. – Estudar a situação; e
3º. –Entrar em ação imediatamente.
É claro que tudo isso, tem que ser feito em frações de segundos e atos sincronizados.
O Nicácio que permaneceu na chalana, quando a dominou remou em direção a moça o Munhoz, simplesmente solou o cinto NA com o coldre e a pistola no convés da lancha e caiu na água.
Quando ela veio a tona pela segunda vez o Munhoz já estava a seu lado e segurou-a firme, porque se afundasse a terceira vez, teriam que procurar o seu corpo em vez de salvá-la.
Enquanto isso, a namorada do Munhoz que presenciou todos os acontecimentos trágicos, entrou em desespero no convés da lancha, sozinha e apavorada começou a gritar num ataque estéril de pavor e medo, fazendo com isso que todos os ribeirinhos ( pessoas que moravam nas proximidades do rio ) se aglomerassem nas barrancas do rio para ver o que estava acontecendo.
Os dois que socorriam a Cigana, nada viram, a preocupação deles no momento era tirar a moça da água para depois socorrerem a outra.
Como sentiu que não seria possível colocá-la dentro da chalana, o Munhoz segurou-se numa de suas bordas com a moça desmaiada em um dos braços enquanto o Nicácio remava procurando aproximar-se da margem do rio, o que foi conseguido a uns duzentos metros de onde tinha acontecido o acidente.
Para sorte dos dois Fuzileiros e o que evitou mais um desastre, foi que passava uma balsa de toras, o que era comum em grandes cheias, era madeira que descia o rio desde Santa Catarina para as madeireiras de Uruguaiana.
O balseiro ao assistir o desenrolar dos fatos e vendo aquela mulher que gritava apavorada, determinou que uma das lanchas socorresse a moça, só que:
Sendo conhecedor das leis de Portos Rios e Canais, pelo rádio solicitou permissão a Capitania dos Portos para aproximar-se da lancha que era uma unidade militar e a aproximação só com permissão das autoridades.
Imaginem a confusão que se meteram os dois Fuzileiros envolvidos na segurança da lancha.
A Capitania dos Portos ao ser comunicada e não entendo nada do que aquele cidadão pedia, entrou em contato com o Comando do Grupamento de Fuzileiros Navais em Uruguaiana, este por conseqüência procurou o Comando do Destacamento de Fuzileiros Navais de São Borja para entender que confusão era essa.
Só que todos estes contatos foram efetivados no dia seguinte, porque em 1962 não havia a facilidade de hoje nas comunicações, naqueles tempos, era só telegrafia ou os telefones pretos e com manivelas que funcionavam quando queriam.
O Nicácio e o Munhoz sem terem a mínima idéia do que acontecia nos bastidores, estavam apavorados porque quando chegaram a margem com a Cigana, após terem usado todas as técnicas que conheciam, a guria não reagia de maneira nenhuma, chegando a pensarem que ela esta morta.
Sem saberem que rumo tomar, e ao serem informados que a outra moça tinha sido resgata da lancha e estava em terra firme, resolveram levar a Cigana nas costas para a sede do Destacamento que nessas alturas já estava em grande movimento.
La chegando, foram orientados a colocarem a moça na enfermaria que o enfermeiro Swfiter tomara as providencias para reanimá-la, o que foi feito logo em enseguida e partir daí, os dois foram recolhidos preso para o alojamento e o Sargento de dia providenciou no encaminhamento da Cigana para o hospital da cidade.
O Swfiter que era um marinheiro e não fuzileiro, o que era comum nos quartéis da Marinha, especialistas na área de recursos humanos geralmente eram marinheiros da gola.
RESUMO DA HISTÓRIA
O Nicácio e o Munhoz responderam uma sindicância pela transgressão disciplinar que cometeram.
O Nicácio que era o que estava de serviço tomou 10 dias de prisão rigorosa, cumpridos na cadeia do 2º. Regimento de Infantaria do Exercito em São Borja.
O Munhoz que não estava de serviço mas também cometeu transgressão disciplinar, tomou 5 dias de prisão simples e os dois foram obrigados a pagar dois cobertores para completar a carga do almoxarife do Destacamento.
Passados 90 dias do acontecimento destes fatos, chegou uma mensagem via rádio do Grupamento de Fuzileiros de Uruguaiana, convocando os que haviam passado na seleção para o curso de Cabo na Ilha do Governador no Rio de Janeiro.
O nome do Nicácio constava da lista, só que com uma tarja vermelha, a punição sofrida não permitiu que ele realizasse a viagem com os outros.
Portanto o Nicácio perdeu a sua oportunidade de graduar-se, por ter sido o responsável direto pelo quase afogamento da Cigana.
Caxias do Sul, 06.11.2008
Corria o ano de 1962, o Nicácio servia como Fuzileiro Naval no Destacamento de Fuzileiros Navais na cidade de São Borja.
Entre tantas atividades inerentes a função dos Fuzileiros, tinha uma que era disputada por todos e que seguidamente eles trocavam entre si as escalas ou tiravam o serviço em dupla.
Essa missão era o de guarda da lancha no rio Uruguai.
A lancha: Bem a lancha era um meio de transporte fluvial para diligências ou patrulhas que eram realizadas no rio que faz divisa do Brasil com a Argentina.
A patrulha é claro eram feitas no lado brasileiro, a não ser o que o responsável às vezes sem saber ou intencionalmente ultrapassasse a linha imaginária que dividia os dois Países.
Quando o comando estava com o Cb. Paiol, bem ai tudo podia acontecer, porque ele não tinha limites em suas ações.
As patrulhas tinham o objetivo de inibir o contrabando ou descaminho de café, açúcar e pneus para o lado Argentino e farinha, cebola, azeite e carne para o lado brasileiro.
Fora esses detalhes, a missão mais importante era a soberania nacional sob as águas fluviais brasileiras e o que levava a todos que participavam ter uma grande honra em desempenhar tal missão.
Além disso, quando a lancha não estava em patrulha, ficava ancorada na costa brasileira, num pequeno porto sem trapiches que ficava nos fundos do destacamento.
Todos os dias tinham fuzileiros escalados para permanecer na lancha com o objetivo de guardá-la e protegê-la de qualquer dano.
Ai começava os problemas da história que estamos contando.
A lancha, além de todos os apetrechos correspondentes a uma unidade militar, tinha objetos normais e inerentes a uma atividade fluvial e militar, indispensáveis a uma missão como aquela.
Ela, a lancha, possuía em sua proa um pequeno alojamento com duas camas, uma a bombordo e outra a estibordo, essa comodidade, possibilitava que sempre que o Fuzileiro que estivesse de serviço, se lhe agradasse, podia levar um companheiro para não ficar isolado na missão.
Dificilmente ficava só um, sempre havia um companheiro e para que não ficassem os dois sozinhos, era normal que as namoradas de ambos os acompanhassem, o que acabava complicando tudo, porque afinal, a lancha era uma unidade militar e era expressamente proibido pelos regulamentos militares que civis permanecessem em áreas militares, principalmente se fossem do sexo feminino.
É claro que o sacrifício das namoradas era para não deixar seus amores sozinhos em tão árdua missão.
As enchentes, sempre foram da normalidade da região, mas quando o rio estava cheio, realmente a missão era complicada e muitas vezes arriscadas.
Numa dessas enchentes o rio estava de barranca a barranca, a correnteza muito forte, com grandes toras descendo rapidamente, a água turva e grandes remansos, a lancha ancorada a mais de 50 metros da margem, sem parar, balançando-se nas ondas de mais de metro de altura.
O Nicácio era o responsável pela lancha e sentiu que todo cuidado era pouco para chegar até ela.
O pequeno trajeto era feito numa pequena chalana movida a remos o que para os jovens e experientes Fuzileiros era moleza.
Só que:
Tanto o Nicácio como seu colega Munhoz que nessa noite seria seu segurança, estavam acompanhados, cada com uma namorada.
O Nicácio ainda lembra-se do nome da sua, ou melhor, do seu apelido, ‘’Cigana’’ a outra que acompanhava seu colega, não tem a menor idéia de quem fosse.
As duas menores, mas naqueles tempos, não tinha conselho tutelar e transar com menores não era tão rigorosa como é agora.
As duas estavam com muito medo de fazer o pequeno trajeto e os dois Fuzileiros pressentiam o perigo e estavam não com medo, mas apreensivos e sabiam que a mínima vacilada e daria um grande problema.
O Nicácio, primeiro levou até a lancha o Fuzileiro Munhoz e sua namorada, voltando para levar a Cigana que tinha ficado na barranca.
O retorno foi feito com alguma dificuldade, a correnteza estava muito forte e o vento fazia as ondas balançar perigosamente a pequena embarcação.
O Munhoz estava parado na popa da lancha observando a minha manobra pra encostar a chalana a estibordo, local que seria mais prático para a Cigana fazer o transbordo
A Cigana tinha embaixo do braço esquerdo duas mantas dobradas, quando a chalana encostou ela segurou-se na lancha, com este movimento a chalana abriu um pouco deixando um vácuo de mais ou menos um metro e meio entre as embarcações, era só ela puxar firme e a chalana se aproximaria da lancha o que facilitaria a operação.
O Nicácio que viu o pavor nos olhos de sua companheira pressentiu o que poderia acontecer se ela soltasse a lancha.
Tentando evitar o pior, falou firme, mas sem gritar: não solta a lancha.
O alerta funcionou completamente ao contrário.
Ela com os olhos esbugalhados de pavor, ao ouvir a advertência, largou a lancha e imediatamente caiu na água, com o movimento brusco, a chalana desequilibrou quase virando , fazendo com que o Nicácio em vez de prestar atenção na Cigana , se preocupasse em não deixar a chalana virar.
A Cigana ao cair permaneceu por uma fração de segundos a flor d’água agarrada as duas mantas e logo a seguir afundou num redemoinho de água e espumas.
Quando apareceu, foi a uns cinco metros de onde tinha caído, já descendo a forte correnteza e afundando novamente.
O Nicácio deixa neste relato um agradecimento ao Cb. Batista e sua turma de instrutores.
Valeu os exercícios e instruções do curso de formação de Sd. Fuzileiro Naval.
1º. – Não se apavorar, manter a calma;
2º. – Estudar a situação; e
3º. –Entrar em ação imediatamente.
É claro que tudo isso, tem que ser feito em frações de segundos e atos sincronizados.
O Nicácio que permaneceu na chalana, quando a dominou remou em direção a moça o Munhoz, simplesmente solou o cinto NA com o coldre e a pistola no convés da lancha e caiu na água.
Quando ela veio a tona pela segunda vez o Munhoz já estava a seu lado e segurou-a firme, porque se afundasse a terceira vez, teriam que procurar o seu corpo em vez de salvá-la.
Enquanto isso, a namorada do Munhoz que presenciou todos os acontecimentos trágicos, entrou em desespero no convés da lancha, sozinha e apavorada começou a gritar num ataque estéril de pavor e medo, fazendo com isso que todos os ribeirinhos ( pessoas que moravam nas proximidades do rio ) se aglomerassem nas barrancas do rio para ver o que estava acontecendo.
Os dois que socorriam a Cigana, nada viram, a preocupação deles no momento era tirar a moça da água para depois socorrerem a outra.
Como sentiu que não seria possível colocá-la dentro da chalana, o Munhoz segurou-se numa de suas bordas com a moça desmaiada em um dos braços enquanto o Nicácio remava procurando aproximar-se da margem do rio, o que foi conseguido a uns duzentos metros de onde tinha acontecido o acidente.
Para sorte dos dois Fuzileiros e o que evitou mais um desastre, foi que passava uma balsa de toras, o que era comum em grandes cheias, era madeira que descia o rio desde Santa Catarina para as madeireiras de Uruguaiana.
O balseiro ao assistir o desenrolar dos fatos e vendo aquela mulher que gritava apavorada, determinou que uma das lanchas socorresse a moça, só que:
Sendo conhecedor das leis de Portos Rios e Canais, pelo rádio solicitou permissão a Capitania dos Portos para aproximar-se da lancha que era uma unidade militar e a aproximação só com permissão das autoridades.
Imaginem a confusão que se meteram os dois Fuzileiros envolvidos na segurança da lancha.
A Capitania dos Portos ao ser comunicada e não entendo nada do que aquele cidadão pedia, entrou em contato com o Comando do Grupamento de Fuzileiros Navais em Uruguaiana, este por conseqüência procurou o Comando do Destacamento de Fuzileiros Navais de São Borja para entender que confusão era essa.
Só que todos estes contatos foram efetivados no dia seguinte, porque em 1962 não havia a facilidade de hoje nas comunicações, naqueles tempos, era só telegrafia ou os telefones pretos e com manivelas que funcionavam quando queriam.
O Nicácio e o Munhoz sem terem a mínima idéia do que acontecia nos bastidores, estavam apavorados porque quando chegaram a margem com a Cigana, após terem usado todas as técnicas que conheciam, a guria não reagia de maneira nenhuma, chegando a pensarem que ela esta morta.
Sem saberem que rumo tomar, e ao serem informados que a outra moça tinha sido resgata da lancha e estava em terra firme, resolveram levar a Cigana nas costas para a sede do Destacamento que nessas alturas já estava em grande movimento.
La chegando, foram orientados a colocarem a moça na enfermaria que o enfermeiro Swfiter tomara as providencias para reanimá-la, o que foi feito logo em enseguida e partir daí, os dois foram recolhidos preso para o alojamento e o Sargento de dia providenciou no encaminhamento da Cigana para o hospital da cidade.
O Swfiter que era um marinheiro e não fuzileiro, o que era comum nos quartéis da Marinha, especialistas na área de recursos humanos geralmente eram marinheiros da gola.
RESUMO DA HISTÓRIA
O Nicácio e o Munhoz responderam uma sindicância pela transgressão disciplinar que cometeram.
O Nicácio que era o que estava de serviço tomou 10 dias de prisão rigorosa, cumpridos na cadeia do 2º. Regimento de Infantaria do Exercito em São Borja.
O Munhoz que não estava de serviço mas também cometeu transgressão disciplinar, tomou 5 dias de prisão simples e os dois foram obrigados a pagar dois cobertores para completar a carga do almoxarife do Destacamento.
Passados 90 dias do acontecimento destes fatos, chegou uma mensagem via rádio do Grupamento de Fuzileiros de Uruguaiana, convocando os que haviam passado na seleção para o curso de Cabo na Ilha do Governador no Rio de Janeiro.
O nome do Nicácio constava da lista, só que com uma tarja vermelha, a punição sofrida não permitiu que ele realizasse a viagem com os outros.
Portanto o Nicácio perdeu a sua oportunidade de graduar-se, por ter sido o responsável direto pelo quase afogamento da Cigana.
Caxias do Sul, 06.11.2008
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