Minhas raízes

Minhas raízes
Uruguaiana

quarta-feira, 18 de abril de 2012

NASCIMENTO


Na linguagem vulgar, o NASCIMENTO é o momento em que um ser vivo inicia a sua vida.

Nas bactérias e outros organismos o nascimento corresponde à separação das duas células que resultam da divisão celular.

Nas plantas, o nascimento corresponde à germinação da semente.

Nos animais ovíparos, o nascimento corresponde à eclosão do ovo.

Nos animais vivíparos, é o momento da saída do feto de dentro do útero materno, como resultado dum processo denominado parto.

No sentido figurado, fala-se também do nascimento das estrelas ou do nascimento de uma nação.

Neste sentido, pode considerar-se que o nascimento é o oposto da morte, no entanto, pode também considerar-se que a vida do individuo tem inicio no momento da fecundação do óvulo pelo espermatozóide.

Este conceito é utilizado pelas pessoas ou movimento que se opõem ao aborto voluntário.

Do ponto de vista\legal, o nascimento é o momento em que um ser v Ivo inicia a sua via.

Com o Nicácio todo esse processo aconteceu num galpão, não foi o primeiro e nem será o último, acredito que mesmo com o progresso hoje existente, ainda muita gente nasce em galpões.

O galpão que o Nicácio nasceu servia para guardar materiais da casa, um verdadeiro depósito, tinha um pouco de cada coisa, inclusive o cantinho onde a mãe do Nicácio aninhou-se para pari-lo.

Galpão para quem não sabe, é o nome dado a uma edificação rústica, em tempos passados de barro e capim, mais tarde de tábuas e hoje geralmente de alvenaria. O que o Nicácio nasceu já era moderno, era construído de tábuas.

Hoje os galpões são diferentes, tem um relativo conforto, luz elétrica, lareira com chaminé, televisão, banho quente, quartos para os peões. Antigamente, não tinha camas, dormia-se em catres ou em camas de pelegos no chão a beira do fogo com muita fumaça.

Na realidade, era uma senzala, a única diferença é que não se dormia trancado, não tinha tronco para castigar as pessoas e nem correntes para acorrentá-las.

O galpão onde nasceu o Nicácio, conforme afirmei no início, não era de estância, mas era um galpão com as mesmas características, só que era numa Vila, hoje quase uma pequena cidade.

Quando o Nicácio nasceu nesse galpão e nessa Vila , existia muita pobreza.Os pais do Nicácio muito pobres moravam nesse galpão que pertencia aos pais de criação da mãe dele, que foi dada que nem ele, alguns dos seus irmãos e nossos ancestrais.

Foi nesse galpão, que através da habilidade de uma parteira de campanha que Nicácio veio ao mundo, nesse mundo de hoje cheio de preconceitos, problemas, desacertos, desentendimentos, que naquela época também já existiam.

Assim que meteu a cara pra fora, um impasse.

Seus pais não sabiam como iam criá-lo, era mais uma boca para alimentar.

Foi diante dessa dificuldade que a parteira deu a sugestão necessária para sanar o problema.

Se me derem pra mim eu crio esse Negrinho.

A decisão foi imediata, Nicácio foi dado na hora, seguindo o caminho de outros irmãos que também foram dados. (Negros Dados)

Apesar de ter sido dado, foi uma doação diferente.

Com sua mãe adotiva, teve muito carinho, não só dela como dos seus irmãos emprestados e seus tios que apesar da pobreza viviam harmoniosamente e tudo faziam para agradar e atender as suas necessidades básicas.

Sua infância foi como a de qualquer piá pobre, só que com uma diferença marcante. Ele era pobre e negro.

Mas para surpresa sua não consegue lembrar-se de fatos marcantes ou desagradáveis que pudessem marcar sua personalidade.

Ele inclusive acha que na realidade, foi adotado não só pela Vó Chata, mas também pelos moradores da Vila.

É conhecido até hoje como o ‘’Negrinho da Vó Chata’’.

A seu respeito contam muitas histórias, umas verdadeiras outras inventadas, mas nenhuma que desabone sua pessoa ou seus familiares.

Alguma dessas histórias vai contá-las para que os leitores façam o seu julgamento.

Quando ele vai ao Plano Alto, é procurado por jovens e velhos, os jovens querendo saber se as histórias são verdadeiras e os velhos dizendo que participaram ou assistiram muitas das suas falcatruas de guri.

Ele fica muito feliz ao ser lembrado com carinho pelos moradores do local onde nasceu.

Aqui em Livramento, onde mora a mais de 30 anos, tem três amigos Planos altenses, O Adailson Falcão, o Álvaro Murad, e a Marlene

Lembra ainda das famílias cujos filhos foram guris com ele. São eles os Falcões, Polano, Varelas, Freitas, Souza, Goulartes, Camargos, Jacques, Pereiras, Lopes, Soares, Jardins, Correas, Aripes, Moradia, Rebés, Cegaras, Almeidas, Ajallas e tantas outras.

Uma coisa ele tem certeza. Essas pessoas tiveram de uma maneira ou de outra, grande influência na formação da sua infância e na trajetória do que se tornou com o passar dos anos.

Quando encontra com os amigos e comum recordarem o tempo de guri e as falcatruas cometidas.

Aqui em Livramento, relembra seguidamente em conversas de fim de tarde, sua infância com muito orgulho.

Quer neste livro deixar registrado não só a sua infância, mas a infância de todos os amigos que lhe ajudaram a formar a personalidade que tem até o dia de hoje.

As suas histórias serão as histórias deles, elas só aconteceram em função da amizade que envolveu a todos.

Sua mãe de criação foi parteira de campanha, lavadeira, tinha um coração enorme que abrigava a todos, na sua pobreza vivia como uma rainha africana no meio de seus súditos

Durante a sua existência partejou a maioria dos nascimentos normais naquelas redondezas, sendo conhecida e respeitada na sua habilidade de parteira, comadre, amiga e avó de todos que nasciam pelas suas mãos.

Seu nome, Januária Valença, popularmente conhecida e chamada de Vó Chata, Januária seu nome da senzala e Valença, sobrenome que os escravos ou negros dados recebiam dos seus donos.

A família Valença é de Uruguaiana, fazendeiros, médicos, comerciantes, uma família respeitada e muito querida na região.

O Nicácio se lembra de um caudilho chamado Tertuliano Valença, do Partido Libertador, homem de grande prestígio, montava um cavalo tubiano com um arreamento de prata e ouro, quando chegava à Vila todo mundo tirava o chapéu para cumprimentá-lo.

Muitas festas políticas eram feitas naquela época, onde eram realizadas grandes churrascadas a sombra dos eucaliptos.

A Vó Chata foi mãe verdadeira do Nicácio. Foi quem lhe criou e lhe deu a formação moral, base da sua atual personalidade.

Em cada solenidade que participa ou oportunidade que tem, está sempre recordando seus tempos de piá no Plano Alto, nunca esquecendo que ali foi alicerçada a base de tudo que conquistou em sua vida.

Ela, a Vó Chata era tão ou mais pobre que seus pais, mas essa pobreza não impediu que lhe desse muito carinho e amor.

Apesar de analfabeta transmitiu-lhe coisas boas que lhe serviram até hoje.

Ela sempre levantava cedo, fazia seu mate e ficava numa pequena área, camuflada e vendo a vila acordar-se e seguir o movimento do dia a dia de todos e é claro que sabia de todos os acontecimentos e ainda era a confidente de muitas

Mulheres pobres que nem ela e às vezes outras nem tão pobres que usavam a experiência da negra velha para desabafar suas preocupações ou mágoas e ainda pedir seus conselhos ou alguma orientação de como deviam proceder para sanar suas dificuldades.

Era festeira, alegre, participativa nas festas da comunidade, gostava muito de um baile, isso que o os bailes na vila era animados por gaita de boca e pandeiro, mesmo assim a Vó Chata não perdia nenhum.

As amigas que tinham filhas em idade de participar dos bailes, mas não eram muito chegadas num fandango, confiavam as moças a Vó Chata que além de levá-las servia ainda de intermediaria para algum namoro, é necessário dizer que os namoros daquela época eram totalmente diferentes dos de hoje.

Ele não esquece um baile que por motivo de um peleia, a Vó Chata no aperto, saiu pela janela.

Ela tinha uma irmã chamada de tia Benta, era magra e baixinha e tinha pegado uma parte da escravidão, gostava muito de contar histórias e uma que sempre marcou e que ficou gravada na memória do Nicácio, foi a maneira que os escravos faziam quando levantavam, principalmente as negra pequenas.

Chegavam à cozinha e antes de iniciar seus afazeres, diziam para seus donos: Benção nhanhá, vou mija e lava a cara.

O Nicácio sempre foi muito grato a ela e a sua família, sua infância foi difícil, mas com muito amor.

A Sra. Januaria Valença, popular Vó Chata é oriunda de uma estância que hoje é conhecida como Estância do Velo, fica logo que passa a Sanga Grande.

A Vó Chata levou a maioria da sua vida, facilitando a vida para os que chegavam a este mundo através das suas mãos, e para felicidade do Nicácio e os familiares por parte dela, foi que onde ela morou num ranchinho coberto de capim e onde ele passou a sua infância, hoje o local foi destinado a vida também.

A Prefeitura de Uruguaiana construiu no local, um Posto de Saúde que de uma maneira diferente faz o que a Vó Chata sempre fez, preservar e ajudar os necessitados nas horas incertas.

Um comentário:

  1. SR. José Vilmar de Medeiros
    Me chamo Edward Jefferson Ribas Valença,Filho e Edward Gimenez Valença,neto de Estevão Valença e acredito ser Bisneto de Benta Berila Valença que suspeito ser a mesma pessoa sitada em sua narrativa irmã DE Januaria Valença ( Vó Chata).Fui informado de seu blog por uma prima que esta pesquisando a origem de nosso sobrenome "Valença" que por muita coincidência pode ser nossa origem pois sempre ouvi dizer que nossa raiz partiu do Plano Alto que poderia confirmar era nossa matriarca Hilda Gimenez Valença ( esposa) de nosso avô Estevão.Se não for lhe tomar seu tempo gostaria de saber mais desta familia ainda temos muitos membro vivos que também podem ajudar na pesquisa que estamos começando.Ficarei muito grato por sua colaboração Jefferson Valença (edjeko@gmail.com)ou (51)91479936 / (51)80309136

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