Minhas raízes

Minhas raízes
Uruguaiana

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Temporal
















TEMPORAL
Que ta rindo Negro velho,
Pergunta sério o Patrão
Nicácio baixa a cabeça,
Lembrando a última prosa,
Que teve com a Faustina.
Meu velho, Eu falei com o Doutô(r)
Afirmou que mais 6 mês(es)
Tu já vai te aposenta(r)
Pra mode arruma(r) o rancho
E também pra descansa(r)
Ri baixinho novamente,
Ao relembrar do assunto.
Relembra o rancho na Vila,
E a sanga que passa ao lado.
Lembra a Faustina sua Velha,
Companheira de infortúnios,
Que há anos lhe acompanha.
Lembra os filhos já criados,
Pegaram rumo na vida.
Só falta ele, só ele
Abandonar a campanha.
Numa segunda cedito,
O Patrão chegou do povo,
Trazendo a grande notícia.
Nicácio arruma já os teus tarecos,
Que tu vai pegar o brete.
Eu não sei pra que pagar,
Alguém que não presta mais
Tu ainda estás na estância,
A pedido dos meus pais.
Nicácio ficou em silêncio,
Sem poder conter o pranto.
A notícia é um acalanto,
Para os planos com Faustina.
Vai poder arruma o rancho,
Se lhe pagarem direito,
Separar alguns trocados,
Pra curar a dor no peito
Nicácio, não perde tempo,
Recomenda o Capataz.
A noite vai te pegar,
Ta ameaçando temporal.
Se quiseres cruzar o passo,
E chegar cedo à Vila
Agarra a tua mochila
Pega carne no varal.
Saiu firme num galope,
Sentado em riba do poncho.
A noite, chegou ligeiro,
Lembrou-se do bolicheiro,
Mas era tarde de mais.
Voltar, não havia tempo,
Se rinconou na tapera.
Não podia se molhar,
Resolvei ficar ali,
Até o tempo melhorar.
Tratou de arrumar um canto,
Atou na soga o cavalo,
Esperando a chuva chegar.
O corpo velho cansado,
Pediu para descansar.
A Faustina ia entender
A demora pra chegar.
Cochilou, não sabe como,
Ou melhor. Pegou no sono.
Acordou num sobre salto,
Parece que não dormiu.
Só então é que ele viu,
O estrago no lugar.
Lembrou logo da Faustina,
E tratou de encilhar.
Sem entender o motivo,
Como um filme em sua mente.
Recordou tantas enchentes,
Que presenciou pelos anos.
Destruição, desenganos.
Águas derrubando casas,
Latas criando asas,
Ceifando vidas humanas.
Um calafrio pela espinha,
Tomou conta do seu ser.
Não, com ele não.
A Faustina esta lá
Como sempre a lhe esperar
Preparando o chimarrão.
Que tomavam, sempre a dois,
Quietos, mas sempre juntos,
Com a cuia de mão em mão.

As águas subiram tanto,
Que o vilarejo sumiu.
Quase tudo virou um rio,
Difícil até de olhar.
A Faustina, Negra velha,
Morreu sem ele chegar.
Com o cavalo pela rédea,
Não podia acreditar,
Que onde as águas corriam,
Um dia fora o seu lar.

Nicácio chorou em silêncio,
Ao ver tudo destruído.
Perdera sua parceira,
E a vontade de viver.
Não sabia como ia ser,
Só, idade avançada.
O sonho que acalentou,
Na enchente, virou nada.

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