Minhas raízes

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Uruguaiana

quinta-feira, 28 de abril de 2011

M... DE VACAS

A LENHA DO POBRE

Naqueles tempos, conseguir lenha não era tão fácil como pode parecer.
Nas estâncias que tinham matos a tarefa consistia em mandar um peão fazer a carga de lenhas (cortar), depois de cortada, ia uma carroça para trazê-la para a sede da estância (as casas).
Se não tivesse matos, o fazendeiro conseguia com seus vizinhos que tinham matos e mandava seus peões cortar e trazer a carga de lenha..
O Nicácio como guri e peão de estâncias, participou dessas atividades muitas vezes.
O pobre era diferente, em princípio não tinha a facilidade dos fazendeiros, para conseguir uma carga de lenha, só se o patrão lhe desse e se conseguia isso podia considerar-se um privilegiado.
Naqueles tempos, cortavam-se sem controle nenhum, árvores como o Espinilho, mata olho, branquilho, araçá, soita cavalo e outras espécies que ele não lembra.
A devastação era total e sem controle algum.
Na Vila onde o Nicácio nasceu e se criou, (Plano Alto), não se lembra de alguma vez ter ganhado lenha, portanto os moradores tinham que virar-se para enfrentar o inverno e o dia a dia da casa.
Naqueles tempos, não havia gás muito menos fogões que existem hoje. Se havia fogões a gás, sinceramente o Nicácio não lembra ou nunca teve a oportunidade de ver.
O que ele lembra é que nem os fogões a lenha o pessoal pobre tinha.
Na casa do Nicácio e na casa dos seus amigos que eram pobres como ele, o que existia eram fogões feitos de barro com uma chapa velha de algum fogão usado ou então em vez da chapa usava-se um latão grosso.
Na maioria das casas queimava-se esterco de vaca, essa era a lenha que ele conheceu e usou por muitos anos.
Para conseguir era necessário juntá-la nos campos próximos à Vila, onde elas existiam em abundância, mas era muito difícil de conseguí-la.
Os proprietários de terras ou das estâncias próximas a Vila não permitiam que os guris juntassem esse tipo de combustível para os fogões.
Alguns, por pura nulidade que eram outros tinham suas razões, porque os guris não entendiam o funcionamento dos animais nos campos e quando íamos juntar não escolhíamos horários, simplesmente invadiam os campos e com isso produziam grandes movimentos dos animais que pastavam ou próximo ao estava descansando nas aguadas.
Outro particular referente a esse assunto era o mau cheiro que o esterco deixava ao ser queimado.
As casas, as roupas e as pessoas que usavam essa maneira de aquecer-se ou fazerem suas alimentações, cheiravam, ou melhor, fediam a M... de vaca á distancia.
O consumidor do artigo não sentia nada, para eles aquele cheiro era característico de quem era pobre e se valia desse processo para sobreviver.
Hoje quando ele conta fatos dessa natureza as pessoas ficam perplexas e muitas vezes custam acreditar que naqueles tempos a vida para o pobre era bem mais difícil por não existir as mordomias de hoje.
Havia outro particular, os invernos daqueles tempos realmente eram rigorosos.
Para eles aquecerem-se era necessário muito estrume (M...) de vaca.
Não sei como eram feitos os churrascos dos pobres, com certeza ou não comiam ou se comiam tinham que arrumar outro meio para poder assar porque, carne tinha em abundância, qualquer peão de estância quando vinha pra Vila, sempre trazia uma metade de ovelha em baixo dos pelegos.
O que ele não esquece são os churrascos políticos que aconteciam numa sombra de eucaliptos em frente ao seu Ademar de Freitas, local central e ponto de encontro dos adultos durante a noite.

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