Minhas raízes

Minhas raízes
Uruguaiana

sábado, 14 de maio de 2011

As histórias...


A SINETA


O ouro é um metal de transição brilhante, amarelo, pesado, maleável, dúctil, que não reage com a maioria dos produtos químicos, mas é sensível ao cloro e ao bromo.
A temperatura ambiente apresenta-se no estado sólido. Este meta encontra-se normalmente em estado puro e em forma de pepitas e depósitos aluvionais e é um dos metais tradicionalmente usados para cunhar moeda.
O ouro puro é demasiadamente mole para ser usado. Por essa razão, geralmente é endurecido formando liga metálica com prata e cobre.
Pois este metal precioso foi motivo para a curiosidade do Nicácio e também por causa dessa curiosidade que ele levou uma boa tunda de laço – apanhou de seu pai.
Como já é do conhecimento dos leitores, o Nicácio nasceu e se criou na Vila do Plano Alto, município de Uruguaiana. Sua mãe de criação foi a Vó Chata – Januária Valença – que quando o dito cujo chegou aos 12 anos, não agüentou as falcatruas apresentadas por ele, motivo pelo qual resolveu entregar o safadinho para o seu legítimo pai.
O pai do Nicácio era capataz de uma estância de nome Progresso, situada no Passo da Cruz, hoje município da Barra do Quarai.
Nessa localidade, aconteceram muitas das histórias aqui contadas, inclusive esta da Sineta.
Um irmão trabalhava na casa grande e ele no galpão.
O empregado era o pai deles, mas os filhos – todos – trabalhavam de graça – caracterizando trabalho escravo – trabalhar sem remuneração. Naquela época não existia o Conselho Tutelar, se existisse haveria outras complicações.
A patroa – que Deus o tenha... – usava uma pequena sineta para chamar os empregados. Quando se ouvia a dita cuja, prontamente alguém tinha que se apresentar para fazer um mandado ou cumprir alguma ordem.
O Nicácio por ser peão do galpão, nunca esteve sob as ordens daquele pequeno objeto, mas por incrível que pareça, a pequena sineta funcionava como íma sempre que podia ele dava uma espiada e sentia uma vontade de tocar ou manusear a sineta.
Sabia que seria difícil ter acesso à sineta, pois um peão jamais adentraria na casa grande.
Seu irmão olhava e pegava a hora que queria a sineta, ele como criado da casa tinha acesso livre e às vezes manuseava a sineta na presença do Nicácio, só para causar-lhe inveja e mostra sua superioridade em relação ao irmão que era das lidas campeiras.
Certa feita, o Nicácio foi cumprir uma tarefa no pátio da casa grande.
A tarefa consistia em varrer o grande terreiro, que na primavera fica cheio de folhas. Foi nesse dia que o Nicácio ao passar perto de uma varanda para pegar um carrinho de mão, viu a porta aberta e a sineta em cima da mesa.
Ao observar a pequena sineta, sentiu um calafrio e um tremor percorrer seu corpo.
Quando voltou com o carro de mão, não resistiu a tentação de dar uma paradinha e olhar com mais atenção. A casa estava em silêncio, uma calmaria, uma tranqüilidade enorme.
Quando recebeu a tarefa que estava cumprindo, ouviu de seu pai a seguinte recomendação: Não faz muito barulho, que essa hora a comadre – patroa – estão sesteando.
Ao lembrar-se desse fato, foi que lhe veio a cabeça a idéia de aproveitar a oportunidade impar para se aproximar da sineta.
A porta estava aberta, a patroa estava dormindo, que melhor ocasião para realizar o seu desejo de tanto tempo.
Não perdeu tempo, soltou o carro de mão, e entrou pé ante pé em direção a mesa.
Não olhou para lado nenhum, olhar fixo no seu objetivo caminhou para o local desejado.
Quando levou a mão para tocar ou agarrar a sineta, nem ele sabia o que faria, ouviu a foz estridente da patroa que cochilava numa cadeira de balanço um pouco afastada de onde o Nicácio adentrou.
Ele parou petrificado sem atinar o que fazer, não sabia se corria se explicava o que pretendia, até que deu meia volta e correu apavorado direto para o galpão.
Seu pai que estava trabalhando nas mangueiras viu quando ele entrou no galpão em desabalada corrida. Imediatamente, parou com o que estava fazendo e foi verificar o que havia acontecido.
Como não conseguiu achar o Nicácio, mesmo tendo lhe chamado, resolveu ir La na casa grande, pois já tinha notado a movimentação do pessoal e ao aproximar-se notou que a patroa estava na varanda conversando com os empregados e pelo jeito estava muito nervosa.
Quando ela viu a aproximação do pai do Nicácio, dirigiu-se a ele, contando-lhe o que havia acontecido.
Entre tantas coisas, disse que jamais tinha passado por sua cabeça que o guri fosse capaz de tamanha ousadia, tentar pegar – roubar – a sineta que estava sob a mesa.
O pai do Nicácio, sem compreender ao certo o que havia acontecido, voltou para o galpão para dar um corretivo em seu filho.
Ele não acreditava no que tinha ouvido jamais lhe passou pela cabeça que um filho seu fosse capaz de pegar – roubar – algo que não era seu, isso ele tinha certeza, mas a realidade era outra, ele teria que dar uma resposta exemplar pra que a patroa não tivesse dúvidas da repressão merecida e que tal ato jamais se repetisse.
Na realidade o que realmente doeu e dói até hoje na consciência do Nicácio, não foi a violência com que seu pai agiu e sim a calúnia que ficou pesando sob o seus ombros.
Ele jamais pensou em roubar ou se apropriar da pequena sineta, apenas queria matar a curiosidade infantil.
Queria manusear, tocar e inclusive ouvir o tilintar do pequeno objeto e ainda tinha a pretensão e a expectativa de ver ser alguém acorreria ao seu encontro quando esta fosse tocada por suas mãos.
Este acontecimento deixou muitas seqüelas, muitas dúvidas, até hoje o Nicácio se pergunta: Será que a sineta que causou tantos transtornos a ele, era mesmo de ouro ou simplesmente amarela?

Nenhum comentário:

Postar um comentário