Minhas raízes

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Uruguaiana

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

As histórias do Nicácio

A BICICLETA
Por ocasião da seca contada na
história das carreiradas na estância, o pai do Nicácio, que morava na casa do seu Bélico, fazia o trajeto de ½ légua de bicicleta para poupar os cavalos que estavam muito fracos.
As vezes, dependendo do serviço executado, ou alguma campereada nos campos próximo de onde morava, ele já ficava em casa, motivo pelo qual as vezes a bicicleta permanecia na estância, o que sempre era uma festa para a gurizada e principalmente o Nicácio que sempre que podia dava uma treinada naquela modalidade de transporte que era uma novidade, imaginem uma bicicleta lá pelos anos 50, correspondia a um limusine, o que fazia o seu dono cuidar e zelar, inclusive nas redondezas era a única a chamar a atenção de quem não tinha familiaridade com esse tipo de veículo
Um fim de semana como tanto outros nos longos 04 anos que moraram naquela localidade,o pai do Nicácio deixava a bicicleta sempre fechada em seu quarto particular que tinha direito no galpão.
Para surpresa do Nicácio , terminado o serviço da semana,seu irmão mais velho, andando pelo galpão deparou-se com a bicicleta encostada na roda de um trator dentro do galpão. Não conteve a alegria e correu para contar ao Nicácio a descosberta.
Imediatamente, se organizaram para dar umas voltas de bicicleta, inclusive decidindo no par ou impar para ver quem andava primeiro.
Entre o galpão e a cozinha dos peões, tinha uma estradinha de aproximadamente uns 30 metros, que acabava na frente da cozinha onde existia um enorme paraíso, de sombra frondosa onde a peonada tomava mate e contávam as novidades do dia nas horas de folga.
Vindo do Galpão em direção a cozinha, tinha um pequeno declive, ali foi o local escolhido para demonstrarem suas habilidades com o veículo em questão.
Após várias voltas, cada um tetentando mostrar que era mais hábil na condução da bicicleta Nicácio convenceu seu irmão a sentar no quidom, o que foi feito e impulsionou o veículo largando na pequena descida. Só que não calculou a velocidade que pegaria com dois em cima.
Andaram tranqüilos, só que quando tentou segurar o freio rebentou e sobrou o paraíso como alternativa para parar. O seu irmão vendo que se rebentaria se batesse de frente, saltou fora deixando o Nicácio com a responsabilidade de fazer a geringonça parar, o que não foi possível.
Resultado, entrou de cara no paraíso.
Quebrou um dente e a bicicleta, rebentou o eixo da roda dianteira e entortou todo o aro.depois de analisarem o tamanho do desastre, ficaram pensando como descascar o abacaxi que seria quando o pai descobrisse tudo. Com certeza ia sobrar pra o Nicácio como sempre, além do dente quebrado e alguma escoriações teria que suportar o relho do velho.
Porque sobrar pra ele e não pro seu irmão?
Porque o seu irmão trabalhava na casa grande, tinha o privilégio de ficar protegido pelos donos da estância, lá o pai só ia quando chamado para receber alguma ordem, quanto ao Nicácio que era peão do galpão não tinha outra saída a não ser agüentar o tirão
Analisaram durante um largo tempo, como consertar o estrago, não tinha o mínimo conhecimento, consequentemente, endireitaram a roda da melhor maneira possível e colocaram um prego de atracá no lugar do eixo dianteiro e ataram com um arame fino, era certo que quando o pai tentasse andar seria descoberta toda a falcatrua do acidente.
A bicicleta ficou quase duas semanas sem ser usada, até que um dia seu pai disse ao irmão caçula que tinha vindo com ele pra estância, que assim que terminassem de dar remédio para o rebanho, iriam de bicicleta para casa.
Foi o que aconteceu, bem a tardinha o velho pegou a bicicleta, botou o irmão no porta pacote e assim que saiu do para- peito na frente do galão, empurrou desconfiado a bicicleta e montou, não chegou a andar 5 metros e desequilibrou-se e caiu de todo o comprimento, com a bicicleta e o guri que levava, por cima dele.
O irmão do Nicácio vendo o estrago, resbalouce para a casa grande e p Nicácio não tive outra atitude a não ser esperar o resultado da queda do pai.
Ele já tinha desconfiado que algo estava errado, para não ariscar, pegou o relho, botou atrás da porta do galpão, já pronto para afofar os dois a pau.
Calmamente encostou a bicicleta na cerca e virou-se dizendo:
Nicácio vem aqui. Pega essa porcaria e vai desfazer o que vocês fizeram.
Só que quando o Nicácio virou-se ele já vinha com relho na mão. Deu uma surra daquelas conversadas, sem muita pressa, cada volta de arame que o Nicácio dava para desatar o prego, tomava um laçasso, fazendo com que até hoje quando se atreve a dar uma de escritor e colocar no papel a sua infância na campanha, sinta arrepios da surra que levou.
Quanto ao outro ordinário, que se escapou por ser puxa saco dos patrões, desafiava o Nicácio quando a bicicleta era deixada por gosto a disposição: Tchê o pai deixou a Bicicleta, não vai dar uma voltinha?

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