Minhas raízes

Minhas raízes
Uruguaiana

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cuentos de caserna

O FERRADOR
Foi nosso colega por um longo tempo, um soldado que tinha muitas habilidades, mas uma delas e que o tornou conhecido, foi a de ferrador. Eu fui criado em campanha, conheço todas as atividades nessa área, dúvido que exista algo que eu não tenha feito no tempo que fui peão de estâncias. Como tradicionalista, participei de muitas cavalgadas e assisti muitas atividades nessa área, uma delas foi presenciar pessoas inabilitadas ferrando cavalos, na marra, sem a mínima esperiência, maltratando os animais e ressabiando-os. Vi vários animais ficarem apavorados quando havia necessidade de ferrá-los para alguma atividade. Portanto, considero que essa atividade - ferrar um animal - é necessário ter curso, habilidade, senssibilidade e tato. Pois se ao cravar um clavo - prego que segura a ferradura no casco - atingir o mole do casco, jamais esse animal permitirá que seja ferrado ou só conseguirão com ele deitado e amarrado com maneadores e maneias. Presenciei muitos atos de puro vandalismo, confundido com gauchismo. Tudo que relatei é para enaltecer a profissionalidade que tinha o nosso soldado ferrador.É claro que além de ferrar ele tinha conforme já citei, outras habilidades e uma delas, dobrar o cotovelo - tomar um trago de canha - mesmo que muitas vezes fizesse isso quando estava de serviço, o que o regulamento militar não permitia. Vou declinar o nome do dito cujo, mas quem serviu no 2° RPMon, sabe de quem estou falando.Vamos chamá-lo de Na... de Bo.... Contam várias histórias à seu respeito, mas eu vou me ater às que eu presenciei e ouvi durante o tempo - 16 anos - que servi no 2º Regimento. É preciso ainda registrar, que as histórias não têm o objetivo de desmerê-lo, pelo contrário, quero com elas presigiá-lo, tenho certeza que todos que foram seus colegas o apreciavam muito e suas atitudes hilariantes são de conhecimento de muitas Unidades Militares do nosso Estado. Nosso querido amigo, nos deixou e garanto que está fazendo sucesso com seus cuentos em outras paragens, fazendo rir muitos dos nossos que la estão. Eu era 1º Sargento, chefe da ronda numa madrugada daquelas de renguear cusco. Nunca fui motreteiro, mas quando dava pra aplicar, eu não perdia tempo. O meu quarto de ronda era das 24 00 hrs às 03 00 hrs, quem foi ou é milico, sabe que esse horário não é mole - 2º quarto de hora -. Para aliviar o horário e o frio, fui fazer a ronda, quer a passar nas baias, linha de tiro, 2º. Esquadrão e retornar ao corpo da guarda, volta essa que levava em torno de 20 minutos. Só que ao chegar nas baias, na lareira cripitava uma tora de arueira, água quente, chimarrão e o nosso Ferrador com uma - garrafa -velho barreiro pra esquentar a alma. Dei uma olhada, senti o clima e não resisti em aquecer-me um pouco antes de completar a volta da ronda. Nesse meio tempo, ele me disse que havia comprado um carro. Sargento, comprei um carrinho pra dar as minhas voltas, já estou quase por me aposentar, quero aproveitar. Concordei e ainda incentivei o empreendimento, dizendo a ele que precisava dar a seus familiares o conforto que mereciam por ter sido a base do seu sucesso. Ele concordou, o ambiente estava agradável e o assunto fluiu tranquilamente. Lembrei de fazer algumas perguntas. Tche como está o carro? Muito bem Sargento.Pintura? Pintura nova , o cara me deu as notas, foi pintado a pouco. Documentos, tudo em dia? Sim Sargento ,tudo em dia falta só pagar o seguro, mas ele me disse que vai pagar. Tche e pneus ? Três pneus novos e eu já providenciei, vou comprar mais um novo pra não ter problemas. Mais um mate, ele saia da beira do fogo, mexia nuns sacos de forragem e voltava. Eu sabia que ia tomar um trago de canha, com certeza, me fazia de desentendido e o assunto ia em frente. Instalação elétrica Tche? Tudo bem Sargento, tem uma ou duas sinaleiras queimadas mas isso eu resolvo. Tche e o estofamento? Novinho Sargento. Achando que já tinha espantado o frio, aquecido a alma com o chimarrão e feito as perguntas necessárias a respeito do investimento do meu amigo e colega, resolvi continuar a minha ronda. Mas eis que ao chegar a porta lembrei de fazer o último questionamento, ao Na...de...Bo... Tche cara antes de te parabenizar pela iniciativa que tivestes em adiquirir um automovel para o lazer teu e da tua familia, lembrei que não te perguntei a respeito de um problema crucial num carro e fundamental para o seu funcionamento. Sim Sargento, pergunte. Tche , segundo tu me informastes, o carro está bem de tudo, mas eu te pergunto e de motor, qual a situação do motor do carro? Bem Sargento, motor sim não tem. Eu sinceramente não esperava essa resposta e fiquei tão desnorteado, sem saber o que dizer que achei que o melhor a fazer era terminar a minha volta de ronda.

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